DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

RELEMBRANÇAS...

12/08/09


Há muito tempo ando querendo botar fora sentimentos vazios. É uma sensação de final de tempos, de coisas irrecuperáveis, perdidas e não sabidas seus paradeiros. Como começarei a desvendar uma coisa que se acha encaixada a mim e me pesando como algo morto? Difícil me é, sim, porque são sentimentos extramuros por que não dizem respeito às nossas existências, mas às de outros à minha volta. Por exemplo:

Aqui em meu bairro - o Perissê - havia uma "tribo" de alegres jovens que se reunia num dos rodinhos existentes por aqui. Trocavam alegrias e simpatias, participando de jogos de vôlei no meio da rua; estavam juntos, amiúde. Depois, sem quaisquer motivos, se separaram indo todos os quais para o seu lado e no decorrer do tempo mais se distanciavam uns dos outros, até que não restasse mais nem a sombra nem a lembrança daquela "tribo" feliz. Esse é um dos sentimentos que se perderam vazios dentro de mim. Então vejo cada qual de tempos a tempos como se uma grande distância os separasse até mesmo de seus parentes. A rua perdeu a vivacidade, a alacridade e a jovialidade, portanto, que essa "tribo" nos proporcionava aos primeiros dias de nossa chegada ao bairro. Atualmente, o bairro, não, o bairro não, à rua defronte à altura em que ocupo um sobrado, perdeu igualmente os seus jovens que se dissociaram da rua, do bairro e das próprias casas onde moravam. Alguns deles viajaram para além da fronteira de nosso Brasil. Outros assumiram seus papéis de pessoas ocupadas antes do tempo e mal gozaram as regalias de suas adolescências. Não os vemos mais. Perderam-se no Tempo e no Espaço, mas teimam em nadar em nossas lembranças como coisas que uma maré forte as tivesse levado para longe de nossa praia.

Depois... Bem, depois vem àqueles amigos da mocidade, que houve alguns o Tempo e a distância dos fatos levaram longe suas feições e nada deixando como registros de suas presenças. Não vejo mais seus rostos se estou à rua a nada fazer a não ser desejando encontrar um ou outro, ainda esporadicamente, para sentar a uma mesa de bar - que também já não existe mais como antigamente - tomar café, beliscar uma fatia de bolo de milho e botar os assuntos em dia. Nada!

Dava um pulo ao salão de jogos de bilhar e de sinuca que havia à Rua São João, para encher o meu vazio. O ambiente tinha os odores das cervejas, das baforadas de cigarros, do espírito das bebidas capitosas e o som dos choques das pequenas esferas coloridas nas tabelas das mesas ou nas caçapas. Dezenas de desconhecidos passavam os seus tempos por ali, entre um copo e outro, e entre uma tacada e outra. Mas havia os meus conhecidos com os quais repartia o tempo das partidas à boca da caixa registradora do bar do salão. Hoje, nem entro mais. As portas se fecharam. O jogo, de sinuca e de bilhar e mesmo o salão, perdeu para os horários das novelas, dos programas tipo BBB, Fazenda e outros. Há jeito, algum jeito mágico, de recuperar todas essas brilhantes efemérides?

Passo por uma vitrine de loja e de uma só olhada me descobre velho. Aquele vigor de jovem trabalhador e estudante perderam-se igualmente entre tantas outras perdas. O que lamentar mais? As minhas perdas do meu tempo de mocidade ou as perdas de há apenas uma década atrás? Quais machucam mais? Essas ou aquelas? Não sei... Só sei que meus olhos me desvendam ainda tudo o que se acha arquivado na memória quando puxados todos os acontecimentos ao momento presente. Dá-me vontade de vociferar, com raiva mesmo, em meio à rua, o apelo que me morre à garganta: "Amigos, "tribos", jovens, uni-vos enquanto ainda é tempo de saborear as amizades, as presenças de cada qual e, dessa forma, enganando o próprio Tempo e o próprio Espaço montando, de novo, os palcos daquelas coisas que se transmudaram em lembranças vazias, que machucam".

Por último - mas por uma questão cronológica deveria vir em primeiro lugar -, o "quintalzinho de se enrolar". Quintalzinho de se enrolar... Quem diria ainda estivesse como coisa fresca a bailar em minha memória? Não os vemos há mais de 29 anos - aquele pedaço de quintal que ficava atrás do prédio onde moramos por alguns bons anos. Nele as minhas filhas, ainda crianças, brincavam de "enrolar" seus corpinhos pela pequena descida gramada, que terminava junto do muro divisório ao outro terreno vizinho. A inventividade infantil não deveria acabar jamais. As pessoas, já adultas e cheias de responsabilidades, têm obrigação de conservar esse espírito de infância num momento de maior beleza de suas vidas, algumas tão curtas.

Hoje, chegando ao ocaso de minha existência, debruçado ao peitoril de minha janela do sobrado onde moro, olho as ruas de meu bairro e nada vejo. O bairro envelheceu. Nas suas ruas, já não há mais grupos de jovens álacres enchendo as tardes de verão com seus gritos, apupos e alegrias. É um deserto de gente. Um arquipélago sem ilhas não é um arquipélago. É um vazio monstruoso que vem, à moda do bicho-papão, nos assustar com seu silêncio e com a ausência daqueles corpos lépidos abrilhantando as ruas do bairro. Alguém sabe onde fica Passárgadas? É para lá que eu quero ir. Lá, não serei rei, mas é possível que me perca a memória de tudo o que me tem incomodado. "Saudade, torrente de paixão, emoção diferente, que aniquila a Vida da gente... É uma dor que eu não sei de onde vem..." Sei, sim, e muito bem, de onde vem. Vem do fundo de mim mesmo.

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