sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Noite agitada a de ontem. Aécio Neves entregou carta ao presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, na qual renuncia a pré-candidatura à Presidência da República.
Escrevi semana passada que eu andava meio ressabiado com o “panetonegate”, e que a implosão de José Roberto Arruda poderia ter a ver com declarações de algumas lideranças do DEMO definindo o neto de Tancredo como a melhor opção para o PSDB. Nesse caso a implosão de Arruda seria um aviso para Aecinho, afinal de contas o governador mineiro tem o telhado de vidro, mas se esconde ante uma imprensa entre amordaçada ou devendo-lhe fidelidade canina.
De qualquer modo não podemos dizer que haja exatamente a partir da desistência de Aecinho uma readequação da estratégia política em plano nacional. Nem para a oposição e menos ainda para o lado do governo. Há muito era sabido que Serra detém o controle do PSDB e não abriria mão de ser o postulante da oposição farisaica à Presidência da República. Para tanto conta também com relações quase carnais com a mídia oligopolizada. Portanto, o que causaria uma reviravolta no jogo político seria justamente Aecinho conseguir de alguma maneira solapar a candidatura de Serra. O front governista sabia disso e sempre conheceu as dificuldades de Aécio para se impor dento do PSDB. PT e demais partidos que gravitam em torno do governo Lula sempre contaram com Serra como adversário em 2010, nunca com Aécio. Volto a dizer, uma candidatura de Aécio, fosse pelo PSDB ou pelo PMDB como foi ventilada algumas vezes, bagunçaria o xadrez político.
Resta agora saber se Aecinho disputará uma eleição certa ao Senado por Minas Gerais, o que lhe deixaria numa situação bastante confortável ou se preferirá grudar seu nome ao de José Serra e aceitará a condição de vice-presidente na chapa do atual governador paulista.
Caso Aécio ceda à pressão da alta cúpula do PSDB – e nesse instante também de boa parte do DEMO – para ser coadjuvante de Serra, o que realmente ele lucraria? A promessa de José Serra de não tentar a reeleição em 2014 e, portanto , dele se firmar como o nome natural dentro do consórcio demo-tucano? Isso me parece, por ora, muito pouco. Quem garante que Serra não venha a sofrer pressão por parte de fortes setores paulistas para que faça valer o seu direito à reeleição?
Já se Aécio optar pelo Senado terá todas as condições de se tornar um dos homens forte no Congresso em um eventual governo José Serra. Mais ainda, pode barganhar o apoio a Serra em troca de posições de relevância dentro da máquina administrativa e dos ministérios, talvez ele próprio ocupando algum ministério de visibilidade e se cacifar cada vez mais para uma futura disputa à Presidência.
Ademais, se um eventual governo José Serra, pelas mais diferentes razões, vier a naufragar Aécio Neves estará a uma distância de segurança, enquanto que na condição de vice-presidente essa distancia se torna quase inexistente.
Agora, noutro cenário, caso Dilma Rousseff suplante José Serra em outubro de 2010, um Aecinho senador se tronaria o aglutinador de todas as forças da oposição conservadora. Ocuparia naturalmente o espaço hoje ocupado justamente pelo governador paulista e faria os demo-tucanos comerem em sua mão podendo pleitear o que bem entender.
Para finalizar é bom salientar que a desistência de Aécio Neves não deixa de ser uma vitória para o Brasil. Porquanto Aécio Neves representa de forma muito mais consistente que qualquer outro dos atuais nomes ventilados para a disputa da Presidência um projeto neoliberal arcaico, cheio de desvarios, porém travestido num falso discurso alternativo. Destarte ganha o Brasil e perde o PSDB. Aécio era também a única alternativa dentro da oposição farisaica capaz de dividir a base de apoio do governo Lula. Para onde iriam PSB e PDT com Aecinho presidenciável? Eis uma bela incógnita. Isso sem falar que, no mínimo, a aliança formal entre PT e PMDB ficaria mais distante.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 14:43 0 comentários Links para esta postagem
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014
Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.
O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.
O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.
sábado, 19 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
CRISE NO DEMO
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Esperei um pouco para dar o meu pitaco sobre os últimos acontecimentos no Distrito Federal. Afinal como bom mineiro que sou, sempre fico ressabiado com algo que não consigo compreender muito bem. No caso especifico do governador José Roberto Arruda e o “panetonegate” até agora não compreendi o porquê da mídia oligopolizada gastar tanta tinta e imagens. Obviamente não estou criticando o direito da imprensa de divulgar um esquema de corrupção dos maiores que vimos nesses últimos tempos. Pelo contrário, até aí não só acho louvável e aplaudo, como gostaria que essa mesma imprensa fizesse desse exercício algo de praxe, o que infelizmente não ocorre. Para comprovar isso basta lembrar que no Rio Grande do Sul o mar de lama (xô Carlos Lacerda) jorra varrendo o (des)governo Yeda Crusius. Ou então a forma tímida (sic) como a imprensa cobriu a cassação do governador paraibano Cássio Cunha Lima. Ou, voltando ao “panetonegate”, o porquê da midiazona não apurar pra valer a ligação entre o esquema montado por Arruda no DF e empresas que prestam serviço para a prefeitura da capital paulista.
Entretanto depois das cenas de truculência praticadas pela Polícia Militar ao reprimir o sagrado direito de manifestação da população contra um governo eleito por ela própria, resolvi dividir com meus leitores algumas dúvidas. Aliás, por falar em truculência da polícia nos governos demo-tucanos, me parece que essa é uma das marcas registradas dessas administrações. Invasão do campus da USP pela tropa de choque da PM paulista, governo José Serra. Repressão a manifestantes e assassinato pelas costas de um integrante do MST pela Brigada Militar gaucha, governo Yeda Crusius. Expulsão e humilhação, permeados por atos de terrorismo de Estado praticados pela PM mineira contra sem-terras num acampamento em Campo do Meio, governo Aécio Neves. Disseminação de preconceito contra povos indígenas e movimentos sociais roraimenses, além de leniência com atos de vandalismo perpetrados por arrozeiros contra bens da União (explosão de pontes,por exemplo), governo José Anchieta Júnior. Em comum todos esses governadores têm o ninho do qual saíram para administrar seus respectivos estados, o ninho tucano. Como Arruda foi o único governador eleito pelo PFL, atual DEMO, só faltava ele pra mostrar seu lado autoritário. Esse é modo demo-tucano de governar.
Falando sobre o “panetonegate” há muitas dúvidas, algumas elucubrações, porém poucas certezas até o momento. Uma das certezas é a de que realmente foi instalado no DF um enorme esquema de corrupção. No entanto penso ser cedo ainda para afirmar que esse esquema fora de fato montado no atual governo. O passado de Joaquim Roriz, ex-governador do DF, mostra-nos o quanto é provável que esse esquema venha de antes. Aliás, como os eleitores do DF têm uma capacidade para eleger e ressuscitar figuras tão funestas! Roriz parecia fadado ao estertor político na metade dos anos 90, mas voltou e numa das eleições mais apertadas da história recente do país sobrepujou o então governador Cristovam Buarque, candidato a reeleição. Elegeu e reelegeu-se para depois conquistar uma cadeira no Senado. A essa cadeira teve de renunciar para não ser cassado poucos meses após assumi-la, pois se vira acossado por diversas suspeitas de caixa dois usando como fonte o Banco de Brasília.
Arruda também já teve a sua “volta por cima”. Em 2001 o então líder do governo FFHH no Senado viu seu nome envolvido na violação do painel eletrônico do Senado Federal, utilizado na votação que cassou o mandato do ex-senador brasilense Luís Estevão. Negou, chorou e apresentou como álibi uma declaração do hoje blogueiro Ricardo Noblat de que haviam jantado juntos na noite em que ocorrera o crime. Porém, ao final, encurralado, usou a tribuna do Senado para admitir a culpa e depois para renunciar ao cargo, evitando assim o processo de cassação do seu mandato, que poderia torná-lo inelegível por aproximadamente nove anos.
No ano seguinte trocara o PSDB pelo PFL (o que na prática não muda nada) e voltou de forma triunfante para o Congresso Nacional. Dessa vez eleito deputado federal com mais de trezentos mil votos e a maior votação proporcional do país. Em 2006 leva ainda no primeiro turno o governo do DF e é congratulado pela nossa mídia oligopolizada como o homem que “deu a volta por cima”, do inferno ao paraíso.
Desde então até o final do mês passado era tratado como administrador sério e conciso, ciente do papel reservado ao Estado frente o capitalismo moderno e exemplo de gestor público. Lideranças tanto do DEMO (PFL) quanto do PSDB corriam a Brasília para elogiar o governador Arruda, selar acordos e contratos de parceria, e aproveitavam para tirar fotos ao seu lado. O governador do DF estava no seu auge e bem na fita. Era inclusive cotado para assumir a vaga de vice numa eventual chapa de José Serra como presidenciável tucano.
Por que então depois de ser tão ovacionado pela mídia, essa mesma resolveu mostrar a podridão e a lama fétida que tomaram conta do Palácio dos Buritis? Será que ninguém no DF nunca ouviu falar, nem de longe, num esquema tão grande? Um esquema assim não surge do dia para a noite. Será que a imprensa foi descuidada ao ser tão benevolente com Arruda mesmo sabendo do seu passado nada auspicioso, sobretudo quando analisamos sua proximidade com Roriz?
É também curioso que o DEMO tenha seu único governador atingido por um mega-escândalo no momento em que algumas lideranças do partido vêm o público externar a preferência por Aécio Neves como cabeça de chapa na disputa pela presidência da República no próximo ano. E mais, são justamente essas lideranças, Cesar Maia e o filho Rodrigo, que têm mostrado uma posição mais ambígua sobre a expulsão ou não de Arruda.
A exposição das fraquezas do DEMO em rede nacional vem a calhar a partir do instante em que ele pretende interferir nas decisões tucanas contrariando o que almeja o governador paulista. Cesar Maia chegou a afirmar, em entrevista concedida ao Último Segundo do IG que José Serra lembra os piores caudilhos. “Um caudilho do passado apontava o dedo para o candidato. Agora o próprio candidato aponta o dedo para si.”
[http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/11/16/cesar+maia+elogia+aecio+e+diz+que+serra+lembra+os+piores+caudilhos+9104950.html]
Contudo não seria uma tática suicida essa? Afinal as denúncias contra Arruda podem respingar não só na formação da aliança PSDB-DEMO como pode atiçar ainda mais o fogo amigo. Mas também pode ser uma jogada da ala tucana liderada por Serra para minar o DEMO do DF e buscar a formação de um palanque com Roriz – há algum tempo rompido com Arruda – candidato declarado a governador e líder nas pesquisas de intenção de voto. Pode ser.
Pode ser também que o escândalo do “panetonegate” já estivesse prestes a explodir e tenham resolvido detoná-lo (ou seria correto dizer implodi-lo???) agora, um anos antes da eleição, assim têm mais tempo para limpar a sujeira.
Tampouco descarto a possibilidade da implosão do governo Arruda ser um aviso de Serra a Aécio Neves. O governador mineiro, concorrente de Serra na disputa pela indicação tucana ao Planalto tem o telhado de vidro, porém, manteve a imprensa de seu estado entre amordaçada e devendo-lhe fidelidade canina durante os últimos sete anos. Imaginem vocês se alguém, na mídia nacional, se interessa em escafunchar as ligações de Aecinho com as empreiteiras contratadas para a construção da maior obra que os tucanos fizeram por Minas, a Cidade Administrativa? Quem sabe se não há ali um potencial tremendo de soterrar as aspirações futuras do neto de Tancredo? Curiosamente, foi só o “panetonegate” ser detonado que Aécio adotou um discurso mais conformado com a eventualidade de Serra ser o presidenciável de seu partido. Inclusive já deixou no ar a possibilidade de retirar a pré-candidatura ainda nesse ano.
São dúvidas que dificilmente terão respostas a curto prazo, por isso ando tão ressabiado que nem escrevi no começo do texto.
Antes de terminar gostaria de ressaltar aqui é a postura de vestal do DEMO dizendo que nessa crise terá a oportunidade de se diferenciar do PT que não expulsou seus “mensaleiros”. Nem vou entrar no mérito da questão em si, afinal como posso ter certeza que o “mensalão” petista existiu da forma como foi denunciado por Roberto Jefferson? A denúncia de Jefferson é o que há de mais concreto, e abstrato, sobre o mensalão petista, a denúncia dum deputado ressentido e com interesses escusos. Todavia, mesmo que o DEMO venha a expulsar Arruda e expô-lo para suplícios em praça pública isso não torna a legenda mais ética e honesta que qualquer outra. Foi o PFL, agora repaginado para o nome de DEMO, quem abrigou e saudou Arruda como novo herói após a violação do painel do Senado. No mais, o comparsa de Arruda naquele crime foi ACM, que além de também renunciar ao mandato para não ser cassado, foi novamente eleito senador pela Bahia e continuou por até a morte como um dos caciques do partido, inclusive deixando herdeiros.
Em tempo. José Roberto Arruda tem o direito de se defender frente as acusações que lhe recaem no momento, ainda que o caso pareça indefensável. Só assim se poderá afirmar que houve justiça de fato. Além disso, o ideal é que não paire dúvidas sobre a culpabilidade do réu para que mais tarde não seja tratado como falso mártir, o que não parece muito difícil dadas as circunstâncias. Contudo, em casos como esse, o problema pode ser a dilatação do prazo para a defesa, cabe ao DEMO definir um prazo razoável para o desfecho do caso, pelo menos de sua parte. Expulsão sumária como parte de mídia, da sociedade e do DEMO querem, apenas reforça a reminiscência de vezos autoritários. O direito a defesa e ao contraditório fazem parte do rito democrático, no entanto algumas pessoas e instituições ainda não se acostumaram a tanto.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 11:51
Esperei um pouco para dar o meu pitaco sobre os últimos acontecimentos no Distrito Federal. Afinal como bom mineiro que sou, sempre fico ressabiado com algo que não consigo compreender muito bem. No caso especifico do governador José Roberto Arruda e o “panetonegate” até agora não compreendi o porquê da mídia oligopolizada gastar tanta tinta e imagens. Obviamente não estou criticando o direito da imprensa de divulgar um esquema de corrupção dos maiores que vimos nesses últimos tempos. Pelo contrário, até aí não só acho louvável e aplaudo, como gostaria que essa mesma imprensa fizesse desse exercício algo de praxe, o que infelizmente não ocorre. Para comprovar isso basta lembrar que no Rio Grande do Sul o mar de lama (xô Carlos Lacerda) jorra varrendo o (des)governo Yeda Crusius. Ou então a forma tímida (sic) como a imprensa cobriu a cassação do governador paraibano Cássio Cunha Lima. Ou, voltando ao “panetonegate”, o porquê da midiazona não apurar pra valer a ligação entre o esquema montado por Arruda no DF e empresas que prestam serviço para a prefeitura da capital paulista.
Entretanto depois das cenas de truculência praticadas pela Polícia Militar ao reprimir o sagrado direito de manifestação da população contra um governo eleito por ela própria, resolvi dividir com meus leitores algumas dúvidas. Aliás, por falar em truculência da polícia nos governos demo-tucanos, me parece que essa é uma das marcas registradas dessas administrações. Invasão do campus da USP pela tropa de choque da PM paulista, governo José Serra. Repressão a manifestantes e assassinato pelas costas de um integrante do MST pela Brigada Militar gaucha, governo Yeda Crusius. Expulsão e humilhação, permeados por atos de terrorismo de Estado praticados pela PM mineira contra sem-terras num acampamento em Campo do Meio, governo Aécio Neves. Disseminação de preconceito contra povos indígenas e movimentos sociais roraimenses, além de leniência com atos de vandalismo perpetrados por arrozeiros contra bens da União (explosão de pontes,por exemplo), governo José Anchieta Júnior. Em comum todos esses governadores têm o ninho do qual saíram para administrar seus respectivos estados, o ninho tucano. Como Arruda foi o único governador eleito pelo PFL, atual DEMO, só faltava ele pra mostrar seu lado autoritário. Esse é modo demo-tucano de governar.
Falando sobre o “panetonegate” há muitas dúvidas, algumas elucubrações, porém poucas certezas até o momento. Uma das certezas é a de que realmente foi instalado no DF um enorme esquema de corrupção. No entanto penso ser cedo ainda para afirmar que esse esquema fora de fato montado no atual governo. O passado de Joaquim Roriz, ex-governador do DF, mostra-nos o quanto é provável que esse esquema venha de antes. Aliás, como os eleitores do DF têm uma capacidade para eleger e ressuscitar figuras tão funestas! Roriz parecia fadado ao estertor político na metade dos anos 90, mas voltou e numa das eleições mais apertadas da história recente do país sobrepujou o então governador Cristovam Buarque, candidato a reeleição. Elegeu e reelegeu-se para depois conquistar uma cadeira no Senado. A essa cadeira teve de renunciar para não ser cassado poucos meses após assumi-la, pois se vira acossado por diversas suspeitas de caixa dois usando como fonte o Banco de Brasília.
Arruda também já teve a sua “volta por cima”. Em 2001 o então líder do governo FFHH no Senado viu seu nome envolvido na violação do painel eletrônico do Senado Federal, utilizado na votação que cassou o mandato do ex-senador brasilense Luís Estevão. Negou, chorou e apresentou como álibi uma declaração do hoje blogueiro Ricardo Noblat de que haviam jantado juntos na noite em que ocorrera o crime. Porém, ao final, encurralado, usou a tribuna do Senado para admitir a culpa e depois para renunciar ao cargo, evitando assim o processo de cassação do seu mandato, que poderia torná-lo inelegível por aproximadamente nove anos.
No ano seguinte trocara o PSDB pelo PFL (o que na prática não muda nada) e voltou de forma triunfante para o Congresso Nacional. Dessa vez eleito deputado federal com mais de trezentos mil votos e a maior votação proporcional do país. Em 2006 leva ainda no primeiro turno o governo do DF e é congratulado pela nossa mídia oligopolizada como o homem que “deu a volta por cima”, do inferno ao paraíso.
Desde então até o final do mês passado era tratado como administrador sério e conciso, ciente do papel reservado ao Estado frente o capitalismo moderno e exemplo de gestor público. Lideranças tanto do DEMO (PFL) quanto do PSDB corriam a Brasília para elogiar o governador Arruda, selar acordos e contratos de parceria, e aproveitavam para tirar fotos ao seu lado. O governador do DF estava no seu auge e bem na fita. Era inclusive cotado para assumir a vaga de vice numa eventual chapa de José Serra como presidenciável tucano.
Por que então depois de ser tão ovacionado pela mídia, essa mesma resolveu mostrar a podridão e a lama fétida que tomaram conta do Palácio dos Buritis? Será que ninguém no DF nunca ouviu falar, nem de longe, num esquema tão grande? Um esquema assim não surge do dia para a noite. Será que a imprensa foi descuidada ao ser tão benevolente com Arruda mesmo sabendo do seu passado nada auspicioso, sobretudo quando analisamos sua proximidade com Roriz?
É também curioso que o DEMO tenha seu único governador atingido por um mega-escândalo no momento em que algumas lideranças do partido vêm o público externar a preferência por Aécio Neves como cabeça de chapa na disputa pela presidência da República no próximo ano. E mais, são justamente essas lideranças, Cesar Maia e o filho Rodrigo, que têm mostrado uma posição mais ambígua sobre a expulsão ou não de Arruda.
A exposição das fraquezas do DEMO em rede nacional vem a calhar a partir do instante em que ele pretende interferir nas decisões tucanas contrariando o que almeja o governador paulista. Cesar Maia chegou a afirmar, em entrevista concedida ao Último Segundo do IG que José Serra lembra os piores caudilhos. “Um caudilho do passado apontava o dedo para o candidato. Agora o próprio candidato aponta o dedo para si.”
[http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/11/16/cesar+maia+elogia+aecio+e+diz+que+serra+lembra+os+piores+caudilhos+9104950.html]
Contudo não seria uma tática suicida essa? Afinal as denúncias contra Arruda podem respingar não só na formação da aliança PSDB-DEMO como pode atiçar ainda mais o fogo amigo. Mas também pode ser uma jogada da ala tucana liderada por Serra para minar o DEMO do DF e buscar a formação de um palanque com Roriz – há algum tempo rompido com Arruda – candidato declarado a governador e líder nas pesquisas de intenção de voto. Pode ser.
Pode ser também que o escândalo do “panetonegate” já estivesse prestes a explodir e tenham resolvido detoná-lo (ou seria correto dizer implodi-lo???) agora, um anos antes da eleição, assim têm mais tempo para limpar a sujeira.
Tampouco descarto a possibilidade da implosão do governo Arruda ser um aviso de Serra a Aécio Neves. O governador mineiro, concorrente de Serra na disputa pela indicação tucana ao Planalto tem o telhado de vidro, porém, manteve a imprensa de seu estado entre amordaçada e devendo-lhe fidelidade canina durante os últimos sete anos. Imaginem vocês se alguém, na mídia nacional, se interessa em escafunchar as ligações de Aecinho com as empreiteiras contratadas para a construção da maior obra que os tucanos fizeram por Minas, a Cidade Administrativa? Quem sabe se não há ali um potencial tremendo de soterrar as aspirações futuras do neto de Tancredo? Curiosamente, foi só o “panetonegate” ser detonado que Aécio adotou um discurso mais conformado com a eventualidade de Serra ser o presidenciável de seu partido. Inclusive já deixou no ar a possibilidade de retirar a pré-candidatura ainda nesse ano.
São dúvidas que dificilmente terão respostas a curto prazo, por isso ando tão ressabiado que nem escrevi no começo do texto.
Antes de terminar gostaria de ressaltar aqui é a postura de vestal do DEMO dizendo que nessa crise terá a oportunidade de se diferenciar do PT que não expulsou seus “mensaleiros”. Nem vou entrar no mérito da questão em si, afinal como posso ter certeza que o “mensalão” petista existiu da forma como foi denunciado por Roberto Jefferson? A denúncia de Jefferson é o que há de mais concreto, e abstrato, sobre o mensalão petista, a denúncia dum deputado ressentido e com interesses escusos. Todavia, mesmo que o DEMO venha a expulsar Arruda e expô-lo para suplícios em praça pública isso não torna a legenda mais ética e honesta que qualquer outra. Foi o PFL, agora repaginado para o nome de DEMO, quem abrigou e saudou Arruda como novo herói após a violação do painel do Senado. No mais, o comparsa de Arruda naquele crime foi ACM, que além de também renunciar ao mandato para não ser cassado, foi novamente eleito senador pela Bahia e continuou por até a morte como um dos caciques do partido, inclusive deixando herdeiros.
Em tempo. José Roberto Arruda tem o direito de se defender frente as acusações que lhe recaem no momento, ainda que o caso pareça indefensável. Só assim se poderá afirmar que houve justiça de fato. Além disso, o ideal é que não paire dúvidas sobre a culpabilidade do réu para que mais tarde não seja tratado como falso mártir, o que não parece muito difícil dadas as circunstâncias. Contudo, em casos como esse, o problema pode ser a dilatação do prazo para a defesa, cabe ao DEMO definir um prazo razoável para o desfecho do caso, pelo menos de sua parte. Expulsão sumária como parte de mídia, da sociedade e do DEMO querem, apenas reforça a reminiscência de vezos autoritários. O direito a defesa e ao contraditório fazem parte do rito democrático, no entanto algumas pessoas e instituições ainda não se acostumaram a tanto.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 11:51
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