DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

A MATEMÁTICA DOR DE UM PROFESSOR DE PORTUGUÊS

A MATEMÁTICA DOR DE UM PROFESSOR DE
PORTUGUÊS


Quando se é moço ainda, não sabemos medir a extensão da dor de nossos semelhantes. Vemo-los em tortuosos sofrimentos sem, contudo, sermos contagiados por isso. Testemunhamos suas lágrimas sem sentirmos os nossos olhos arderem, o que teria o toque de comunhão espiritual e humana. Isto não deve se constituir em motivo de vergonha ou em uma prova de desamor.
É que temos o nosso lado difícil – coisas insuperáveis que nos assaltam todos os dias, a toda hora, porque ninguém é de ferro.
Quando atingimos a idade das reflexões mais aprofundadas e eivadas de uma ligação mais fiel aos princípios de solidariedade, então, sim, vamos nos unir à dor daquele que sofre uma perda, ou seja, o que for que lhe traga sofrimento impossível de ser amenizado. Palavras e palavras são só o que teremos à disposição de quem sofre.
Lembro-me de que tive um professor de português no Ateneu Norte-riograndense, em Natal. Homem bom, meu amigo leitor, escrupuloso, trabalhador dedicado à sua nobre profissão. Lembra-me suas roupas humildes – ternos surrados de tão antigos; calçados já refeitos nos solados mais de uma vez. Quando ele aparecia de terno e alpercatas aos pés, podia-se avaliar que o velho e batido calçado se encontrava no conserto, para mais um solado.
Nessa época, Parnamirim era quase um município. Era lá que ficava a Base Aérea construída pelos norte-americanos durante a II Grande Guerra para que os aviões vindos dos EUA ali fizessem pouso, para abastecimento e revisão. De lá, levantavam vôo até à África.
Houve uma solenidade nessa Base Aérea para a qual foi o nosso professor convidado a dar uma palestra aos oficiais.
O filho mais velho, desse professor cujo nome me foge à lembrança, mostrou interesse em conhecê-la para tocar com as suas mãos a fuselagem das aeronaves de caça. O pai, amoroso aos seus filhos, levou o rapazinho. E lá se foram numa das viaturas da Base que os veio apanhar em casa.
Retornando a Natal, a viatura teve um dos pneus dianteiros estourado. O veículo militar capotou. No acidente, vários passageiros – oficiais e civis como os dois – foram atirados para fora. O rapazinho foi arremessado para mais longe, na primeira capotagem. Ficou caído ao chão imóvel. Seu pai, nosso bom professor, correu em sua direção. Segurou-o para despertá-lo do choque. A criança pediu um copo d´água ao seu pai, vindo a óbito em seus braços. Um urro encheu a bela tarde. Desesperado, o pai apertou-o contra o seu peito sacudindo-o sem parar. Ninguém mais se feriu, além de pequenas escoriações sem gravidade. O seu filho foi a única vítima fatal.
Com a notícia do infausto passamento do rapazinho, o diretor do Ateneu, Senhor Celestino, encerrou as aulas liberando professores e alunos. Fomos à casa pobre do nosso professor. Em estado de choque, falava para todos que o filho estava com sede, que queria água. Ela ia à cozinha, voltando com um copo cheio para dar ao filho inerte em seu caixãozinho. Quanto desespero e quanta dor naquele coração que se culpava por ter cedido à solicitação do primogênito. Eu, de minha parte, olhava as idas e vindas do pai à cozinha e de lá à sala, sempre com um copo de água à mão. Não irei dizer que não senti emoção alguma, mas não na agudeza que se fazia normal diante daquele quadro. Enfim, de algum modo, talvez egoísta de minha parte, olhava tudo como se estivesse assistindo a um filme trágico. Não compreendia a extensão da tragédia, nem o ir e vir do velho professor que sentia a matemática de sua dor porque exata como a matéria, mas sem a solução que ele desejava; afinal, era apenas um professor de português.

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