DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ANTONIO, O LOURO

ANTONIO, O LOURO


Quanto Antonio você conheceu, meu amigo leitor? Mas quanto Antonio, o Louro? Hum? Poderia me fazer, por um acaso, uma lista de um Antonio, ao menos, conhecido por Louro?
Muito e muitos são os Antonio da vida! Em seu bairro, em sua rua ou dentro de seu círculo de amigos e, mesmo, em sua casa, quanto, quanto deles? Tem que ser Antonio, o Louro, e não só Antonio, que esses se encontram muitos por aí. Esse é um nome de pessoas de ascendência portuguesa; ao menos nos primórdios de nossa colonização pelos lusitanos era assim. Depois, bem depois o nome se generalizou. Pessoas nativas deste Brasil começaram a batizar seus filhos com igual nome, e outros como Manoel, João, Augusto, enfim, nomes legitimamente lusitanos, da boa “terrinha”.
O meu o conheci na empresa rodoviária da Salutaris, lá no bairro de Duas Pedras. Ele era lanterneiro e um pintor de profissão; mas lanterneiro e pintor de peso, não qualquer um, e com as qualidades técnicas aprimoradas a tal ponto de não se poder avaliar se o veículo coletivo, pintado e recuperado, era um carro usado ou novo! Deus colocou à mão do Louro – como era por mim chamado há muito – a magia dos escolhidos para artistas no mundo. E ele era um artista! E que arte tinha nos olhos investigadores, nas mãos firmes e na disposição de bem fazer as coisas.
Depois, sai da empresa, então Auto Viação 1001, que comprara a Salutaris da família Noel, de Três Rios. Não via mais o Louro. Já naquela época o rapaz bebia muito e quanto mais bebia melhor trabalhava. Incrível! Fui encontrá-lo largado, sujo e bêbado como um gambá, com os olhos injetados de sangue e sem poder de fixação. Deixou a casa materna, depois da morte da genitora (foi-me assim contado). Por 11 anos perambulava pelas ruas do bairro Perissê; dormia no meio do matagal – um sítio de eucaliptos – ou dentro de veículos quebrados e abandonados na rua.

Carregava consigo uma doença dos deuses, por que não sei a chamam assim, mas é assim mesmo. Desse jeito, assim mesmo, dos deuses gregos das lendas. Os gregos, geralmente, têm os cabelos negros, e os antigos os tinham alourado e encaracolados. Rezam assim as lendas daquele país de grandes filósofos, consumados artistas e destemidos desportistas.
Mas o Louro que eu conhecia era mais para ruivo, também em sua barba abundante, qual filósofo urbano contemporâneo. Muitas vezes sem conta ele me cortava as passadas para me acompanhar até mais a frente, e na hora da despedida me vinha com o pedido de uma “moedinha para o café”, que não era; serviria mais para a cachaça, mas eu fingia acreditar. Vejam vocês como ele era humilde ao pedir apenas uma moedinha, qualquer delas, de qualquer valor. Mas se eu não tinha, ele se ia sem reclamar e continuando, depois, o mesmo, sempre: sem rancores, faminto muitas vezes mais de um “trago” a um prato de refeição. Às vezes fazia um bico. Fez no meu carro, e eu o paguei além do valor pedido por respeito a sua profissão, embora não mais a exercesse. Todavia, não perdeu a consciência da coisa bem feita, como eu não perdera a compaixão por quem estava largado só no mundo de Deus e que me servira com toda a sua boa-vontade. Hoje, um choque me abalou por inteiro: soube, cedo ainda, que Antonio, o Louro, à meia-noite de ontem, 07 de outubro de 2008, carregando um prato de comida a uma das mãos, tateava com a outra uma parede que achava, sempre, antes da escada que dava ao lugar onde dormia: uma espécie de passagem de ar de uma casa abaixo do nível da rua. Devia ter bebido muito, e sem notar o final da parede da casa, na rua principal, encontrou o vazio nele mergulhando de ponta cabeça. Disseram-me que ele estava numa posição que lembraria um Cristo crucificado de lado, com os braços abertos, um deles retorcido sobre o corpo. Não teve noção de defesa. Bateu violentamente com o crânio abrindo-o à altura da fronte e quebrando o pescoço. Bom moço, apesar da falha de caráter, foi recolhido pelos anjos de Deus e colocado em lugar limpo, sarado e alimentado com o pão da vida eterna e com a água celestina, em vez da água assassina da cachaça. Ótima viagem para você Antonio, o Louro. Um grande abraço de saudade, e de muito arrependimento, que só o Senhor sabe qual.
Morani
CRÕNICA DA VIDA REAL 08/10/08

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