DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


sexta-feira, 24 de abril de 2009

DIVAGAÇÕES EM UM FINAL DE SEMANA

Quinta-feira, 27 de Novembro de 2008

SONHO OU O QUÊ?


Não sei por qual razão, está tudo escuro a minha volta. Teria havido um blecaute? Foi local ou geral? Essa minha pergunta só caberá se de fato estivermos passando por um desses acontecimentos tão comuns nas vidas das cidades.
Também posso estar sonhando. Você já não teve alguma noite um desses sonhos complicados em que tudo anda em plena escuridão? Não negra, e nem que nos impossibilite enxergar alguma coisa, mas uma espécie de lusco-fusco mais acentuado.
Grande dúvida se abate sobre mim! Não lembro ter procurado a minha cama ou tomado qualquer comprimido para relaxar. E esse silêncio profundo que me envolve assim tão sem motivo algum? A minha rua é tranqüila demais, porém a quase todo momento passa um veículo. E por mais lenta que seja a sua passagem sempre faz algum barulho por menor que seja: um capô, a suspensão, uma calota, quando não todas e os elementos da parte debaixo do veículo como o cano de descarga. Por isso estranho o silêncio sepulcral e a escuridão unida para me confundirem. Se estiver a sonhar, então quero despertar. Era assim que sempre fazia quando um sonho descambava para o pesadelo; quando um iminente perigo trazia desconforto e pavor. Os meus sonos sempre foram povoados por sonhos esquisitos, intrincados, ameaçadores, como por exemplo: sonhei muitas vezes estar “escalando” uma rua tão íngreme, como uma parede lisa e abrupta, que tinha a sensação desagradável de me derrocar lá do alto! Outras vezes sonhei subindo uma montanha alta e delgada, tão delgada e de paredes tão lisas que uma vez no alto não via como descer sem me despenhar das alturas me esborrachando, sem remédio, ao chão. Nesse alto de montanha, só cabia eu; e em volta era o precipício! Eu me agarrava com força hercúlea à borda mais delgada que um lápis. Então eu despertava, para o meu alívio.

No entanto, agora sinto-me tranqüilo apesar dessa indefinição de poder avaliar onde me encontro e o que faço em meio à neblina fuliginosa que parece cobrir a cidade inteira como um “fog” londrino, só que mais sujo como pó de carvão que escapasse de alguma carvoaria gigantesca.
Como nada vejo a um passo meu, e me acho senhor de todos os meus sentidos, continuo teimando em não parar. É possível que encontre outro indivíduo que portando uma lanterna possa, dividindo sua luz comigo, caminhar ao meu lado numa parceria de objetivos. Sim, seria a única solução para o momento. Escuto sons, mas chegam aos meus ouvidos abafados como o som de um trompete em que o músico, colocando à saída do instrumento àquela parafernália, avelude as notas mais agudas da melodia. Acho muito estranho não saber de onde vêm esses barulhos; de qual lado: se de cima ou de baixo. Confundem-me, desorientam-me e me desnorteiam como uma bússola cuja agulha perdesse por instantes a atração magnética do norte. Tenho certeza de que não perdi minha visão embora a tivesse já fraca há algum tempo, mas não o bastante para obliterá-la tão contundentemente; também não posso me queixar de não ter a minha audição em perfeita condições, já que tive problemas tempos atrás causados por labirintite aguda e crônica. Aliás, tudo em mim é crônico e definitivo assim como o “ham-ham” da marreta sobre o aço em brasa, em poderosas mãos, a formar a lâmina acabada de uma adaga árabe. Dali só poderia sair mesmo uma fria e delgada lâmina. Pois é: assim são as coisas, quando me acontecem. De pronto se tornam definitivas, crônicas, sem remédio. Fazer o quê? Se dependesse de minha vontade nem os pesadelos teriam vez em minha existência onírica e que os males de meu coração e dos meus rins, se sublevando, se tornassem sadios outra vez. Bem, não esqueço que ando tateando na penumbra como um cego sem remissão cuja cegueira fosse definitiva. Seria definitiva, fosse de nascença. Ah, uma lanterna em minhas mãos!


Tenho a impressão de que toparei a algum obstáculo, inarredável em meu caminho. Devo tomar todos os cuidados, pois as minhas unhas dos pés são delicadas demais. Nelas convivem ninhadas de fungos tornando-as sensíveis. Diz minha companheira de infortúnios que é por ter eu usado tênis por longos tempos. Mas todos, ou quase todos, usam. Por que só a mim viria essa colônia se homiziar? Se exercer forte atração às coisas impróprias, terei culpa? Tenho culpa se me vejo “premiado” pelo insólito, pelo crônico e pelo definitivo?
Não esqueço desse aturdimento por essa situação jamais sentida anteriormente. Não sei se deva continuar ou parar sentando-me [nem sei onde] para esperar levantar essa cortina densa de negrume que a tudo esconde. Ah, terrível dúvida! Nada descortino à frente! É como se uma porta aberta para o abismo me esperasse logo adiante. Se eu der mais um passo, me arroja no vazio sem fim. É essa a minha sensação. Tenho sido precavido. Alguns acham doentio esse sentimento superlativo de cuidados. Não é não. Sempre me conduzi assim e não me arrependo um só instante de ter sido infenso aos perigos por causa mesmo desses cuidados exagerados. E não apenas comigo, mas com as crianças sob minha responsabilidade.
Ora, daria, se o tivesse, uma boa importância a qualquer que venha estar ao meu lado nesse mundo sombrio para me mostrar alguma saída para a claridade. À luz! À luz! Um pouco dela, para os meus olhos não se acostumarem às trevas fazendo assim crônica também essa ausência de luz. Mas, esperem... Ouço murmúrios vindos não sei de onde. Há uma coisa que intriga: os termos usados por quem fala não é os que se usam hoje. Não, não é. Parecem-me... Deixem-me ver... Sim, tenho quase certeza de que são do inicio do século XX, e são pronunciados tão escorreitamente que dão à impressão de saírem da boca de alguém muito letrado e conhecedor da dialética e da prosódia daquela época. De onde virá esse murmúrio?

Ora bem, que coisa estupenda! Vejo clarear à minha volta o ambiente antes envolto em penumbra. Nada vejo ainda, mas continuou a ouvir principalmente uma voz com o timbre de pessoa já adulta; talvez... Talvez vinda de um ancião. É, sim, é de um ancião e douto! Que bela surpresa estará reservada a mim? A névoa se espalha um pouco mais. Que vejo? Logo ali adiante lobrigo a muito custo uma passagem; é uma espécie de entrada circular. Sim, uma entrada finalmente! Pressinto me levará em direção à luz que vejo daqui, lá na outra ponta. Estranha passagem... Jamais vira coisa igual, até esse momento. É um túnel. Um túnel? Onde estive por longo tempo que nunca tenha visto um túnel dessa espécie? Aventurar-me-ei através dele porque acredito ser a única maneira de mergulhar lá onde a luz se faz presente. E eu já estou cansado de vagar a esmo nessa penumbra que parece gosma a se prender à minha pele. Então, lá vou! Ah, que ventura caminhar por aqui! A luz que lobriguei antes começa a se expandir invadindo o final do próprio túnel. Alguém me aguarda. Espero seja um meu familiar ou um amigo. Vou saber dele se o mesmo lhe aconteceu, se andou em trevas insólitas. Isto é, se eu não estiver num pesadelo e se não acordar de repente. Mas... Mas... A quem eu vejo? Deus Meu! Não, não é possível! Que emoção! Que estonteante emoção! Não é possível a menos que seja mesmo, não um pesadelo... Um sonho! Estendo a minha mão trêmula a um conhecido; não só meu, mas a muitos e muitos brasileiros. É nada menos que o meu queridíssimo nobre e personalíssimo Machado... Machado? Machado de Assis? Não seria meu parente Assis Machado? Machado de Assis? Em carne e osso? É... Agora me convenço: estou sonhando, mas ele me diz: “não em carne e osso, mas em energia”. Sorrio contrafeito, e agradeço pela explicação. Quero despertar! Quero despertar! O que há? Não despertarei? Então... Então... Ó meu Deus! Ó Jesus! Ó Vida!

Quem me socorrerá? Quem me virá despertar desse pesadelo? Quem? Por que vejo e sinto a presença de Machado de Assis, o autor do “Diário Póstumo de Braz Cuba”? Será? Será que eu... É possível? Machado me diz que sim só com os olhos por trás daqueles óculos do início do século XX. Convida-me a caminhar junto a ele. Incrédulo, vacilo; peço uma prova, não circunstancial, mas uma prova real. Ele dá de ombros e retirando os óculos de grau de pesada armação faz menção de se ir. Imploro que fique; não desejo, agora que estou em meio a fulgurante luz, à lembrança da solidão de há poucos minutos atrás, que me assusta e me põe angustiado. Ela, a "energia", repõe a pequena peça ótica e me encara. Pede educadamente que o siga. Obedeço muito contrariado. Arrisco uma pergunta: “por acaso o preclaro amigo, ou "energia", teria se insinuado sem minha permissão ao meu sonho?” Olha-me e sorri. Neste exato instante consigo vê-lo não como morreu: idoso e de barba hirsuta e esbranquiçada, porém por volta de seus trinta anos. O fenômeno de sua transfiguração leva-me à dúvida. Teimo por mais provas. Então, como passe de magia, ele se senta a uma cadeira que não existia por ali; puxa para si à mesa, que também não estava no local; começa a escrever uma página de seu livro sobre a personagem Braz Cuba, também sobre um caderno que não existia antes. “Mas isso é fácil acontecer em sonhos”. Pensei comigo, sem nada dizer. Por teimosia, não quis aceitar a prova. Como se fora chamado por mim, apareceu-me, do nada, uma criatura angelical. Essa criatura despachou o escritor que sumiu diante de meus olhos. Estávamos, eu e o anjo, sós. Sem articular palavras, me disse: “É assim mesmo. Compreendemos os recém-chegados, a suas dúvidas e as suas angústias. Vim apenas para servi-lo, mas se tudo o que viu não foi o bastante continue só. Há muito que ver e aprender. Você debuta o Paraíso. Ele é todo seu.” Afirmou e sumiu como aparecera. E, até hoje, espero despertar desse sonho, ou pesadelo. Será...?

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