DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


sexta-feira, 26 de junho de 2009

A DITADURA DA MAIORIA

Por Tiago Barbosa Mafra

O discurso corrente na atualidade é que a humanidade, mais especificamente o homem ocidental, alcançou o modelo mais perfeito de governo: a democracia. Diante de algumas questões da política brasileira e afirmações lançadas recente e continuamente na mídia, cabem certas analises. O que é democracia? Estará ela tomada por idiotas? O objetivo deste artigo é fazer uma breve reflexão a partir do artigo de Luiz Felipe Pondé, sobre como o modelo econômico vigente atrelado aos meios de comunicação, contribuem para a apatia política do país, e paralelamente, para um entrave na busca por uma democracia verdadeira e efetiva.

O que é democracia, afinal? Utilizando simplesmente a etimologia, é o governo do povo, para o povo, pelo povo. É, portanto, a população governando a si mesma, visando sempre sanar os problemas da vida cotidiana e atender às necessidades da maioria, do coletivo, na busca da garantia da sua sobrevivência justa e digna.

Em contrapartida, o que assistimos hoje, segundo o texto de Luiz Felipe Pondé veiculado na Folha em 08/06/09, “A ciência idiota da política”, é a democracia confundida com a relação entre opinião pública (moldada) e a vontade popular. Segundo o texto, a soberania popular tem continuamente sido tomada como sendo a opinião pública veiculada pela estrutura midiática que proclama saber “o que o povo pensa”.

Tal discussão ganha força frente a rumores de um possível terceiro mandato do presidente Luís Inácio da Silva (o qual já descartou a possibilidade), que intriga e confunde favoráveis e contrários à medida. O texto em questão afirma que o modelo presidencialista de governo “(…) corre maior risco de cair na armadilha personalista e populista do executivo” (1). Para demonstrar que a causa do rebuliço não é a permanência do presidente Lula, como querem os “idiotas”, e muito menos a defesa da “estrutura democrática” das mazelas da personificação do poder, faz-se necessário atentar para os seguintes pontos, que descobrem a verdadeira inquietação.

Primeiramente é preciso contextualizar o que chamamos de “democracia brasileira”. Vive-se atualmente em uma profunda “apatia política” (2). A maioria do povo, outrora ligado a partidos ou a ideologias e que utilizavam tais instrumentos como canalizadores da vontade popular, não mais se envolvem em qualquer atividade de reivindicação ou condução popular. “A política está fora da realidade das pessoas” (3).

É nessa lacuna criada pela apatia política, que se consolida o primado dos interesses econômicos sobre o interesse político popular. Vivendo em um modelo econômico que se baseia na propriedade privada, na exploração do trabalho e na concentração de renda por grandes monopólios e oligopólios, resta à massa trabalhadora a corrida constante pela garantia da sobrevivência, pouco importando a atuação política que nada de material, pelo menos imediatamente, lhe trás. Torna-se escasso até mesmo o tempo de reflexão sobre a conjuntura do poder no país. Porém, nesse momento, se encaixam os meios de comunicação.

A mídia, que não está suspensa da realidade, comunga com o povo do mesmo modelo capitalista e em grande parte, a ele serve. Por serem os meios de comunicação, acima de tudo, propriedades privadas, atuam portanto de acordo com os interesses de seus proprietários, optando por orientar o enfoque sobre determinadas questões de maneira que lhes é mais conveniente e economicamente viável. O povo então, desprovido de pensamento próprio e acreditando em uma neutralidade dos meios de comunicação (que não existe e nunca existirá), adota como seu pensamento que não lhe é autêntico.

Já é perceptível o discurso contra os “idiotas” que defendem a possibilidades de um terceiro mandato. Sim, por que nos últimos anos à medida que cresce a Participação popular no exercício do poder, ou os fins da atividade estatal se dirigem de preferência para o atendimento dos clamores de melhoria e reforma social, erguidos pelas classes mais impacientes da sociedade, cresce concomitantemente o prestígio dos partidos, e se firma como Consenso geral a convicção de que ele é imprescindível à democracia em seu estado atual, e com ela se identifica quanto a tarefas, fins e propósitos almejados (4).

Durante os dois mandatos do presidente Lula, o que é visível é uma tentativa, mesmo que paulatina, de transformação das estruturas de distribuição de renda (5) . Contrariando expectativas de intelectuais e trabalhadores, o governo do presidente atual, partidário de uma organização política que estatutariamente se declara socialista, é mais reformista do que revolucionário. Entretanto, mesmo as “reformas”, não agradam as elites do país por colocarem em risco a relativa tranquilidade que já gozam a tempos. Portanto, não é a continuidade da pessoa, o populismo, não é a raiz do problema, mas sim a continuidade do projeto de construção de um Estado que utiliza dos instrumentos da máquina pública para o fortalecimento do próprio Estado e o benefício do povo. Aliás, nada mais justo do que a estrutura pública a serviço do povo.

Esclarecida a questão, resta então o ponto mais importante: a construção de uma verdadeira democracia, desvinculada do padrão contemporâneo exposto por Eduardo Bittar:

“Seria a associação entre capitalismo, liberalismo e democracia uma espécie de bastião transformador da realidade política contemporânea, ou simples aparato ideológico de expansão do ideário moderno, progressista e acumulador de riquezas de alguns países industrializados? (6)”

Para que essa verdadeira democracia concretize-se é indispensável e determinante um cidadão educado politicamente, capaz de interpretar e se posicionar frente as condições políticas que lhe são postas, sem que seja impulsionado a “comprar” uma idéia que não é sua, ou seja, compartilhar da opinião pública forjada sob interesses daqueles que controlam a mídia. Isso só será possível com a transformação do súdito da ditadura da maioria burra em cidadão atuante e consciente, que busque a construção da verdadeira democracia , onde, como foi definido no começo deste texto, impere o interesse coletiva sobre o interesse particular, findando o primado da economia sobre a política.

Tão idiotas quanto os que creem na continuidade do presidente Lula como solução das mazelas brasileiras, são também os que esperam que unicamente a rotatividade no poder garanta a sobrevivência da democracia brasileira nos moldes tradicionais. Para finalizar, não é possível passar em branco a alfinetada de Pondé quando este escreva: “Qualquer pessoa que seja favorável a um terceiro mandato de Lula (…) tem sonhos eróticos com (…) a ‘monarquia popular de Fidel (7)” . Para tanto, e encerrando, cito Frei Betto:

“Cuba resiste como único exemplo latino americano de democracia social e econômica (…) Quem considera que democracia se reduz a eleições periódicas não deve esquecer que em Cuba não há massacres do tipo Carandiru, grupos de extermínio, sequestros, desaparecimentos, assassinatos de crianças, aposentados desassistidos e extorsão financeira para acesso a saúde e a educação, que são gratuitas. (…) Por isso Cuba incomoda que acredita que encher urnas é mais importante que encher barrigas. Mesmo por que essa gente nunca passou fome. No máximo, teve apetite, com direito a couvert. (8)”


1 Folha de São Paulo. Luiz Felipe Pondé, “A ciência idiota da política”, 08/06/09.

2 Olhemos ao nosso redor. Nas democracias mais consolidadas assistimos impotents ao fenômeno da apatia política, que frequentemente chega a envolver cerca de metade dos que têm direito ao voto. Do ponto de vista da cultura política, estas são pessoas que não estão orientadas nem para os output nem para os input. Estão simplesmente desinteressadas daquilo que, como se diz na Itália com uma feliz expressão, acontece no “palácio”. Sei bem que também podem ser dadas interpretações benévolas da apatia política. Mais inclusive as interpretações mais benévolas não conseguem tirar-me da mente que os grandes escritores democráticos recusar-se-iam ao reconhecer na renúncia ao uso do próprio direito um benéfico fruto da educação para a cidadania. – BOBBIO, N.. “O futuro da democracia”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986: 32.

3 BITTAR, E.. “Curso de filosofia política”. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2005: 32.

4 “A democracia”, 277.

5 Exemplo é a medida do ultimo dia 16/06/2009, Terça Feira, em que ficou determinada a compra de 30% da merenda escolar de todo o país de pequenos proprietários agrícolas, que se organizam no modelo de agricultura familiar.

6 BITTAR, E.. “Curso de filosofia política”. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2005: 34.

7 Folha de São Paulo. Luiz Felipe Pondé, “A ciência idiota da política”, 08/06/09.

8 Texto de Frei Betto citado no jornal O Estado de São Paulo em 05/04/1995.

Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia e companheiro de lutas populares aqui em Poços de Caldas
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas

Nenhum comentário: