Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009
Ainda Marina Silva e o PV
Prometo aos meus parcos leitores não me tornar monocórdio ou monotemático, mas é que o assunto Marina Silva anda rendendo. Vejam a análise feita por Edmar Roberto Prandini no Portal Luis Nassif [http://blogln.ning.com/forum/topics/sobre-a-reflexao-e-a-decisao] e logo abaixo o meu comentário.
Sobre a reflexão e a decisão de Marina Silva
1.Sobre a comparação entre Marina e Heloísa.
Deve-se lembrar que Heloísa Helena não saiu do PT. Foi expulsa. Em si mesmo, o fato dela discordar internamente, ao longo dos anos, da linha majoritária do partido, jamais fora motivo para qualquer desabono à sua trajetória e currículo. Expulsa do partido, no contexto da aprovação da segunda reforma da previdência, restava a ela que alternativa?
Abandonar a política porque o PT não a queria mais? O quadro interno do PT que a expulsou não era menos radical do que aquele do discurso que ela adotou, só que em mão contrária: nenhuma crítica e tensionamento ao governo se podia fazer!
Expulsar a HH não foi esforço centralista e de esvaziamento politico, empobrecimento do PT. Muitas foram as consequências trágicas dessa atitude do PT. Muitos militantes aguerridos, com vínculos com o movimento social e sindical, afastaram-se. Foi uma opção do PT para o centro, para acordos com o PMDB, com o Sarney. Abriu-se a brecha para o retorno do Collor.
Se sair, e espero que não, Marina não terá sido expulsa. Marina terá realizado uma avaliação, que se pode discutir se correta ou não, de que as utopias políticas que o PT portava quando de sua criação ter-se-iam perdido nos limites das negociações necessárias para a manutenção da coalizão governante.
Como disse o Danilo Morais, alguns dias atrás, no tópico sobre os limites do pragmatismo, Marina, apontando para a manutenção das utopias, estaria pragmaticamente buscando espaços para oxigenar a discussão da política nacional com a discussão sobre o novo padrão de desenvolvimento que terá que ser sustentável, sob pena de repetir os dilemas produzidos pelo modelo desenvolvimentista dos anos 70.
O pragmatismo entendido como busca da concreção das utopias e da execução das diretrizes e missão não é o mesmo que o pragmatismo daqueles que são capazes de rifar ideais para o acomodamento na ordem estabelecida.
2. Sobre o Governo Lula
Evidentemente Marina reconhece qualidades no governo Lula. O fim das privatizações, o bloqueio da Alca, a reconstrução do Estado, a implantação do Bolsa Família. Mas, ela tem ciência de quanto o governo Lula não foi capaz de manter-se alinhado às expectativas de transformação dos comportamentos e padrões políticos tradicionais vigentes no país. Como justificar o afastamento de Olívio Dutra do Ministério das Cidades? Não havia denuncia nenhuma contra ele, o Ministério estava inovando com o eixo no modelo participativo e a criação das Conferências e do Conselho de Cidades, etc. O governo Lula, se é muito superior aos anteriores, acabou fortemente tolhido da enorme criatividade política gestada nos movimentos sociais no país. Melhorou o salário mínimo? Sim!!! Mas, quão tardiamente conseguiu iniciar o movimento de redução dos juros pagos aos rentistas nacionais. O mesmo se deu em inúmeras áreas que pretendamos avaliar. Avaliar criticamente o governo não é aderir à oposição. É manter a lucidez política e a honestidade intelectual.
3. Sobre o PV
Seu passado e posicionamentos, no Brasil, são terríveis. Se tem um apelo inovador em partes de seu ideário, é óbvio que não conseguiu formulá-lo de forma a assegurar uma identidade política. Foi usado, ao longo dos anos, para reciclar imagens de inúmeros agentes políticos conservadores e de práticas completamente arcaicas.
Marina Silva, inteligente e lúcida que é, sabe disso. A ponderação que ela provavelmente esteja fazendo corresponde àquela decisão que o PT tomou quando de sua criação acerca da participação ou não nos carcomidos limites da institucionalidade, a democracia representativa, “democracia burguesa”. Como personagem central de uma eleição presidencial, ela deve estar cogitando a hipótese de atrair energias, pessoas, para renovar o PV e determinar-lhe um ciclo de migração para posicionamentos inovadores. Movimento típico de uma guerreira, uma mulher corajosa e briosa.
Se o PV reciclou imagens de políticos “ruins”, porque uma política íntegra e de seu perfl não poderia reciclar o partido e torná-lo aliado efetivo de movimentos, lutas e projetos de conteúdo efetivamente valiosos? Essa deve ser a pergunta que Marina está se fazendo.
5. Avaliação da candidatura
Se considero a possibilidade da candidatura da Marina perfeitamente legítima, mesmo que pelo PV, considero também que ela sofrerá enormes restrições políticas. O empresariado receia a mudança do padrão produtivo que uma política efetiva de sustentabilidade social e ambiental produziria.
6. Meu anseio
Que o Lula deixasse seu pedestal de 80% de popularidade e se dignasse a chamar a Marina para um diálogo verdadeiro. Um diálogo em que a temática da sustentabiiidade ganhasse status efetivo na campanha sem a necessidade da defecção da Marina. Que a Dilma assumisse algumas obrigações neste sentido e que urgentemente algumas medidas fossem adotadas para mostrar à Marina que não se trata de mera bravata. Mas, acho que nada disso não vai ocorrer.
Então, tenho a impressão de que a Marina sabe que na dinâmica da campanha, o debate que ela vai produzir será mais eficaz para constranger certos posicionamentos que o governo optou por adotar contra a argumentação que ela oferecia. Ela deve julgar mais fácil mudar o PV do que o governo e, por esta razão, creio que sim, sairá do PT, para manter a dinâmica da luta pela sustentabilidade.
7. Concluindo
Assim como causou tristeza a saída do Plínio de Arruda Sampaio do PT, é de se lamentar que o mesmo aconteça com a Marina Silva. Mas, jamais se poderá considerar que ela o faça como alinhamento à baixaria da oposição ou como erro político. Se há erro político, está no governo e no partido que perdem uma militante como Marina Silva.
Comentário meu:
Caro Edmar
O governo Lula sem duvidas optou pela estratégia do "não embate". O "não embate" com os setores economicamente mais privilegiados, com o agronegócio, com a mídia, com o sistema bancário, com os grupos que têm intensamente internacionalizado nossas terras, etc. e tal.
Tivemos avanços? Obviamente tivemos e muitos nas questões sociais. Contudo nenhum desses avanços representou de fato perigo à classe dominante, a não ser na cabeça dos mais reacionários. Bolsa Família, ProUni, sistema de cotas, Luz Para Todos e muitos mais estão aí para provar o quanto o governo Lula se esforçou na questão social, mas repito, sem tocar em interesses da burguesia nacional.
A reforma agrária que poderia mudar a base social e reduzir as diferenças entre as regiões foi abandonada, quando não sabotada, isso nas palavras do próprio MST. Na divisão internacional do trabalho continuamos a ocupar o mesmo espaço que sempre ocupamos, ou seja, de exportador de produtos primários e commodities.
A possível, quase certa, saída de Marina Silva do PT trará essas discussões até então sufocadas ou relegadas ao abrandamento por militantes, filiados e simpatizantes do PT, além, dos movimentos sociais.
Agora, só espero que Marina não seja tão ingênua a ponta de achar que pode mudar o PV. O PV não passa de um partideco de aluguel. Já circula boatos dando conta que Serra gostaria de tê-la como vice. Seria uma jogada e tanto do governador paulista. E aí eu pergunto, qual será a posição de Marina sendo vice-presidente, no caso duma chapa estapafúrdia dessas vingar e vencer as eleições, vendo uma Kátia Abreu ou um Ronaldo Caiado no Ministério da Agricultura???
Coragem é muito importante nessa vida, sobretudo na política, mas coerência é fundamental.
Se Marina acha que pode contribuir para o Brasil postulando a presidência da República então que o faça dentro do PT. Se for derrotada, de longe o mais provável, e achar que ainda pode se apresentar como alternativa, que o faça dentro duma legenda mais séria que o PV-nada difícil encontra essa legenda.
Por último, como você bem salientou, será uma pena depois de ter perdido Plínio de Arruda Sampaio, perder também Marina Silva. Também foi bem lembrado o que sucedeu a Olívio Dutra, sem duvidas um dos melhores quadros que a esquerda brasileira produziu nas últimas décadas.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 19:24 0 comentários
Ao companheiro Arkx
Debate entre eu e Arkx no Portal Luis Nassif [http://blogln.ning.com/forum/topics/carta-aberta-a-senadora-marina1?page=1&commentId=2189391%3AComment%3A167289&x=1#2189391Comment167289] sobre Marina Silva e a carta aberta que eu a enviei (sem resposta até esse momento)
DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014
Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.
O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.
O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.
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