DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


sábado, 29 de maio de 2010

ARRREMEDO DE GUERRA

Suspeitei de que os dois se riam de minha pessoa. Aí o Mirante, que era esse mesmo o nome do capanga de voz grave, me jogou na cara uma pergunta enxerida que nem precisava ser feita. Quis saber como tinha sido minha conversa com o patrão, que depois soube não ser deles patrão coisa nenhuma, mas, porém pai dos dois. Depois a conversa nossa passou a girar em torno da cabana bonita que iria ser comida pelo fogo.
Mirante, sempre muito falante, meteu-se a fazer com que o outro, Zévedo, se recolhesse à sua insignificância, por pura maldade de espezinhar o mais moço. Se ergueu crescendo diante de meus olhos com aquele tamanho todo, pois que era alto demais o tal. Colocou as mãos na cintura, espichou a coluna e olhou na direção da tal cabana.
–Tu falas é daquela coisa acolá mesmo? Aquilo vai ser queimado.
–È daquilo lá mesmo que eu quero saber: por causo de que será queimada?
–E é tu mesmo quem vai sapecar fogo nela cabrito.
Fiquei azedo com o apelido cabrito. Falei decidido:
–Vamos fazer um trato, ô Mirante? Tu pares de me chamar cabrito e me apodes de qualquer outro qualquer nome, que o meu é Mariano Bé, e eu sou cabra macho lá de Cabedelo na Paraíba. A, pois estamos ou não entendidos?
O homem grande, o tal Mirante, ficou a me mirar lá dos seus altos, naquela altura toda pra baixo onde estava eu. Os olhos deles faiscavam de ódio ou de coisa parecida. Senti isso. Ai, pois, excomungado que já tava por causo do apodo bobo, mandei a pergunta:
–Se eu fui contratado pra trabalhar lá na cabana e coisa e tal pro doutor Damasceno, por que eu hei de tocar fogo nela? Xente! Não entendi nada, nadinha.
Nem ele nem Zévedo me responderam nadica de nada. Os dois, calados, se imbiocaram casa adentro me deixando lá fora sem qualquer explicação. Achei os dois muito desaforados, pois que a minha pergunta merecia uma resposta. Cachorros! Eu tava ali e ali fiquei à toa mesmo. Tava como coisa sem valor que lhes merecesse as devidas atenções, ou um traste qualquer. E eu nem sabia onde dormir ou se comeria alguma coisa... Esperei que me chamassem pelo meu nome próprio, que eles já tinham conhecimento. Qual nada! Resolvi dar um pinote até onde estava a cabana. Vazia por dentro a não ser, vi depois, por um baú encostado na parede em círculo, que a tal peça em palha de coqueiro era como um grande anel. O baú tinha tampa em corcova e pesava muito, tanto, que eu não pude arrastar ele. Não havia rede nem gancho pra uma. Distraído estava quando ouvi uma voz suave de moça por trás de minha pessoa. Outra não era do que a menina da casa do doutor Damasceno. Falou brandamente comigo como se a sua voz não quisesse sair da garganta:
–Moço, ô moço! O pai lhe chama. Não se demore que ele fica nervoso logo, logo.
Fui mais ela, caminhando ao seu lado sentindo o seu perfume roceiro. Em lá chegando o tal Zévedo me botou de pronto um prato de alumínio nas mãos. Era o meu comer: feijão de corda verde, farinha crua, jerimum e carne de sol na brasa. Tava feito. Era tudo aquilo que eu mais desejava, naquele momento de fome.
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