DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


terça-feira, 29 de junho de 2010

ARREMEDO DE GUERRA

Como a história deve contar, e depois tu hás de ver toda a verdade, a marcha para Angicos foi enfadonha demais. Era um arrastar de tralhas sem necessidade, armamentos e apetrechos por cima dos uniformes quentes que nem boca de forno, além do sol brabo, que parecia não se por nunca, a nos deixar louco por água pra banhar a carcaça e pra beber. Tudo lá para aquele outro inferno de lugar era condenatório a nós. O castigo tava mais longo do que se merecia; as maldades dos nossos comandantes não tinham parança. Eram suadouros todos os dias, no meio do poeiral, que enchia nossas gargantas de secura. As nossas línguas, pelo menos a minha era assim: formava uma esponja que não tivesse nada a sugar. A gente cuspia tijolinhos por não termos mais saliva. Que agonia... Só foi mesmo quebrada com os primeiros lances do foguetório brabo que partia de todos os lados sem que a gente pudesse ver os condenados. De pronto, derrearam-se muitos dos nossos já que não se esperava um assalto tão cedo. A gente havia visto sinais de passagem de cabras pelos caminhos: fogueiras aqui e acolá já apagadas, mas algumas saindo ainda fumaceira fraca, azulada, e restos de ossada de bicho como ouriço e tamanduá. Os generais sabiam que estávamos no meio do inimigo, mas, porém, todavia nunca se ia descobrir de onde partiriam os primeiros tiros. Eles caíram em cima de nós como chusma de aloprados portando clavinotes, nossos já conhecidos, bacamartes, fuzis assenhoreados de nossas tropas em fuga, adagas, lanças, foices e ancinhos numa ferocidade de congelar pelo repente do causo qualquer nossa iniciativa de combate ou de defesa. Atiravam, cortavam, desmembravam, espetavam e desapareciam como mágica. E os nossos tiros pegavam mais os nossos próprios companheiros do que os deles. Foi nesse emboscada – e não foi só esta não – que o padre, coitado, se finou depois de uma foiçada que lhe abriu do ombro até quase à barriga um lanho que nem pá de porco. Coisa feia de se ver. Pelo menos dois descansaram: ele e eu. Ele porque, tendo carência de sua ferramenta de fazer filho, sofria muito um sofrer sem trégua. Iria sofrer pra sempre. E eu porque já não carecia de tanta atenção nos movimentos dele, nem os meus amigos que me resguardavam de um seu ato covarde. Mas acreditava, quando me disse pretender me ver por terra sem vida, não acreditando, por outro lado, que fosse atentar contra a minha vida em momentos em que não se podiam vislumbrar quem atirava em quem.
Mas essa batalha foi a mais cruel no meu modo de ver do que as demais anteriores em que fugimos por necessidade estratégica de sobrevivência. Os chãos duros e poentos a um só tempo se encheram de sangue demais dos nossos companheiros mais chegados, menos o do padre, infeliz, que em meio à fumaceira foi abatido que nem carneiro, e nem pode se finar com a glória dos soldados, que é à bala. Quem poderia imaginar um jagunço magricelo com tal força para abrir um homem do alto a baixo? Pois foi assim mesmo. Fiquei livre do velho perigo. E assim se findou a caminhada do padre, moço ainda, longe das mãos do doutor Damasceno e de seus filhos.
Depois de tudo findado, fiquei a remexer em minha cabeça os dias, poucos, passados lá na fazenda do doutor, a resolução do homem e as chamas que subia na direção dos urubus que, avoando em derredor, pressentiam algum acontecido no qual sobraria carniça pra eles. Por pouco aconteceu. Aí fomos contar os mortos e, se possível, enterrar todos porque alguns morreram bem afastados da linha de fogo, por valentia deles lá. Os pobres ficaram ao sol, esturricando devagar e secando que nem múmia do Egito. Quem se atrevesse a se chegar perto deles, era sapecado de balas. O padre quis a Providência Divina, que não abandona seus filhos, que tivesse cova cristã. Pois teve sim, e eu fiz questão de eu mesmo abrir a cova fendendo a terra seca e dura pra botar ele lá dentro. Foi horrível, mas fiz com as tripas embrulhadas.

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