DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

ARREMEDO DE GUERRA

Eu abro minha boca pra contar esses causos de guerra acontecidos lá pelas bandas de Canudos, ainda não lá dentro mesmo do arraial, e tu vejas uma coisa que eu não concordei jamais com que era ou fosse feito pra nossa gente que lutava na frente, enfrentando tudo de perverso, tudo de sanguinário, tudo de mazela adoidada de um quartel de caveiras debaixo de trapos sujos suarentos, sim, de verdade, aquela tropa vinha dos confins dos infernos. O tal bacamarte, muito que usado por eles, recebia tudo o que pudesse furar e cortar, fazer estragos demais da conta em nós: eram cacos de vidro, seixos do rio Vaza-Barrís, pregos, chumbo, cacos de telhas, bolas de vidro, dessas que os moleques brincam todas as tardes de “feridô sou rei”, coisinha à toazinha de brincadeiras inocentes né, e era assim. E os nossos comandantes generais tinham dó da gente não. As ordens eram de avançar sempre sem arrecuo, sem pestanejar sequer e devolver na mesma hora o magote de tiros que vinha de lá.
Agora, tu me digas: vou te perguntar se é possível coisa assim: uma mãe carrega na barriga um seu filho por nove lunações, tendo todos os cuidados deste mundo de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo, sofre pra criar um, dar de comer de beber de vestir e de calçar, e se pode manda pra escola aprender as primeiras letras, às vezes até em se formando bacharel ou coisa que o valha... Ora bem, pois cresce esse filho seu, chega ao tempo das barbas das mãos fortes e braços rijos queimados pelas luzes soalheiras, veste calças compridas, se engraça de uma moça jeitosa, namora, ama, casa, quando dá, e começa todo o caminho desde que tava no ventre quente de sua mãe. A, pois vira homem, o que quero eu dizer: tem cabeça e pensamentos próprios, sabe ou deveria saber o que quer da vida. Tem o seu corpo pro trabalho e pro amor e chega um regime republicano arranjando perengue com uns cabras doidos dos cafundós de Judas, arrebanham um monte de moços que podiam estar no roçado mais as suas enxadas, revirando a terra e plantando pro comer de todo um ano; um corpo que é sagrado e divino, que é o nosso, porque Nosso Senhor mora nele com todos os seus anjos e arcanjos, dão ordens, como se nossos pais fossem, nos vestem de um fardamento pesado e quente, nos dão armas cantis mochilas e botinas apertadas, menos o de comer, e nos mandam pros campos de luta para se engalfinhar com um bando de loucos que não estão nem aí pra morte, morrendo sorridentes... Têm eles esse direito sobre nós? Pois haja a verdade das Leis que têm, sem que possamos nós as vítimas, tocadas que nem gado pro corredor do agulhão, o direito de nos fazer baixar as cabeças deixando à mostra os pescoços pro ferro entrar abaixo da cabeça e nos sangrar. É assim que são vistos os soldados dessa república que já me enchia a paciência quando em por lá estive de milico. E que se tomassem ares de guerreiros valentes e destemidos... Se não... Enfrentassem o Tribunal Militar que pré-julgava, julgava e condenava o desinfeliz à morte inglória.
Quer dizer: lutasse na frente como “boi de piranha” e morresse na luta, ou fingisse lutar arrenegando às ordens, morria, de qualquer dos jeitos. Era como se bater uma no prego e outra na ferradura. Não tinha jeito de se escapar. Então o sujeito virava, sem querer, ousado e partindo de peito aberto pra receber a chucha de uma baioneta nossa em mãos inimigas ou de um balaço nosso antes usado pra abater os jagunços infiéis. Pelo medo ou pela valentia, se finaram naqueles campos esquisitos muitos de nossos moços cheios de futuro se estivessem na Corte, quero dizer: onde tava a República – nas cidades, pois pro interior só havia injustiças e esquecimentos das autoridades pelos homens do campo, dos retirantes das caatingas, dos mortos de fome pela seca braba nos eitos destrambelhados com a falta de serviços.

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