DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


domingo, 27 de junho de 2010

ARREMEDO DE GUERRA

Prontinho, meu senhor. Já me alarguei nos buchos com as minhas pamonhas, que não como só uma não. To pronto a recomeçar de onde nós paramos. Sabes senhor, esses meus cabelos brancos são prova de tantos sofrimentos, de tantos sustos e alguns medinhos de nada, nadinha. Na época das batalhas de Rancho do Vigário eu era um moço de meus 20 anos. Veja bem e imagine: eu, um cabra acostumado a trabalhar no pesado com meu velho pai na roça tinha músculos até nos dedos. É prosa não; é toda a verdade. Depois, fui prestar serviço a um tio, irmão de minha mãe, numa vendinha. Ali o trabalho não era tão afanado não. Perdi meus músculos, e depois fui dar com os costados numa pequena tipografia. Foi ali que me acendeu o desejo de escrever qualquer besteira porque ficar parado, sem muito movimento, põe coisas na nossa cabeça. Foi então que vi pela vez primeira esses livretinhos cheios de imagens dos heróis das estórias. Desses que se vendem nas feiras-livres. Agora, com cinqüenta e cinco no lombo é que resolvi contar tudo sobre Canudos. Tudo não, que muita coisa me escapou da lembrança. Se me embranqueceram os cabelos é porque tenho muitas aventuras que passarei a te contar. Mas já tem por aí o livro daquele jornalista que tinha aspecto de gente muito educada, mas, porém sendo muito sério demais da conta, sem se rir muito. Mas é que ele não tava em tantos lugares quanto eu estive mais meus amigos e o tal padre. Tudo no combate aos cabras do tal Antonio Conselheiro, que pra bem da verdade, eu jamais que vi. Só se sabia que ele fundou um arraial – o primeiro, em antes do de Canudos – que levou o nome de Bom Jesus. E olhe que as Forças Republicanas não tiveram só esses revoltosos não. Em Lençóis, uma turba invadiu aquilo lá passando depois pelas Lavras de Diamantinas. Beira dos Mendes foi outro lugarejo que caiu nas mãos de outros briguentos e Jequié também foi assolado por outro grupo. Foi à época das revoluções, dos levantes, pois que ninguém tava satisfeito com a derrubada da Monarquia. Mas, porém esses revoltosos não se organizaram como os de Canudos. Lá havia os seus comandantes também. Sei de alguns, que vou dar os nomes: Tonio Vila Nova, Tonio Beato, o “Beatinho”, que de beato nada tinha, Bernabé, Macambira, João Abade, o mais valente e brabo, Pedrão, defensor raivoso de Cocorobó, e outros lá. Todos com casas bonitas – as Casas Vermelhas – nos altos do morro.
Lá por em cima, tudo era harmonioso; todas bem arrumadinha que nem pareciam fazer parte daquela montoeira de taperas escuras; mais na parte baixa do lugar. Mas era nessa parte baixa que a cabralhada de jagunços mostrava sua valentia; ali era o lugar onde a cobra fumava, pitava o Demo e a Morte acampava sorrateira, como um ladrão de galinha faz nas noites.
E houvesse coragem pra uma empreitada de baionetas caladas, de uma luta corpo a corpo com aqueles fanáticos que morriam se rindo, com aquelas gengivas sem dentes, quando não um ali e outro acolá, como num sorriso falho. Eles faziam questão de se mostrar assim: quando sentiam a morte em riba deles, abriam as bocas num sorriso visionário. Eita fanatismo bobo!
Mas assim eles eram sempre que davam a vida pela causa de Canudos. Eram que eram fiéis ao monge barbudo. Podiam morrer todos eles, mas o tal de Antonio Conselheiro havéra de viver pra sempre, até a volta do Rei de Portugal que se finou na batalha de Alcacerquebir. Aquele moço-rei foi um valente, um verdadeiro herói. Assim eram muitas das crianças que por trás das trincheiras de Canudos se finavam em luta de heróis.
Eu atirava com dó nos pequeninos. Eram como formigas, pois em cada tapera desconjuntada daquelas tinha um magote grande de fedelhos valentes como o Rei de Portugal, sim senhor. Foi uma guerra mista, aquela. Não foi só de machos crescidos como havéra de ser.

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