DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


sexta-feira, 9 de julho de 2010

ARREMEDO DE GUERRA

Agora que ta entendido o negócio das diferenças das línguas e mais das bestas, deixe que eu continue a descrever essa batalha donde morreu o ex-padre e donde que Geraldo Quintão funcionava como uma máquina de matar, de trucidar o inimigo. Muitos dos nossos saíram de lá com as fardas em frangalhos, e braços, e rostos, e peitos e pernas arranhados, como se houvessem brincado com gatos. Os jagunços haviam colocado como anteparos, ou vigilantes alertas, umas ramagens entupidas de espinhos grandes, modo servir de escudo, mas rajadas da metralha abriam caminho pros nossos, e ainda assim muitos se enredaram de tal forma que foram colhidos de surpresa pela soldadesca sertaneja com fúria de um exército grande. Gente esperta aquela. A gente ficava arrepiada só de ouvir os barulhos de ossos quebrando com as foiçadas e enxadadas que apareceram depois, com os porretes cantando nos quengos dos nossos companheiros em surdos e abafados sons. Atrás de Geraldo Quintão seguia Chico Danado pegando à unha o primeiro que surgisse no meio dos espinheiros. O seu rosto se parecia uma papa vermelha, seu fardamento em tiras e ele levando porretada e espetada das parnaíbas; então, ele recuava serelepe e coriscante, do chão atapetado de gente morta, ou por morrer.
Dois loucos: Geraldo e Chico. Do outro lado nosso, mais para a esquerda, José batalhava pertinho do irmão a lhe dar cobertura de um anjo de guarda, guardando a integridade do mano bom; ficou mais amarelo, não sei de por medo ou por problema de saúde, que parecia não ter demais, porém, contudo, se mostrou valente. Antonio Quelé estava embriagado, acredito, pelo cheiro do sangue misturado ao da pólvora que permeava tudo e todos porque o tiroteio raspava as cabeças dos cabras a fim de alcançar os outros jagunços mais atrás. Tão calmos nos momentos de paz, tão alegres e brincalhões, cheios de risos, dentes de fora a fora das bocas, mas nas horas de luta lutavam muito doidamente, compenetrados, sem cuidados como se a morte fosse uma brincadeira de entrudo: “-Saí de banda morte velha pra é não morrer também!” Gritavam eles o grito de em antes combinado previamente. Era certo aquilo, pois os cabras do arraial também urravam palavras de baixo calão, braços pros altos, pernas e barrigas indo sempre pra frente numa espécie de coito infernal. Mas, varados de balas, tombavam sem mais falar. Se aquietavam, pois a Morte lhes tirava os fôlegos, as graças, os sorrisos, em antes inocentes e amorosos com as suas mulheres e filharada.
Eu, de minha parte, lutando bravamente também igual, só lobrigava por instantes as cabeças daqueles dois malucos se misturando aos dos jagunços com urros de apavorar e baixando as foices tomadas das mãos dos que se finaram como armas de reserva, pois os fuzis, grande e pesados, ficavam difíceis manobrar em meio a tantos braços, corpos e pernas. Lá se foram abrindo caminho entre a jagunçada atônita, que não esperavam tanta valentia em só dois soldados. As caras deles não se viam mais: eram manchas vermelhas de sangue puro, dos cabelos, pois perderam os quepes, aos pés. Pisavam nos defuntos como se estivessem pisando uma rua calçada de uma cidade grande. Então, houve uma trégua. Sumiram os inimigos, como sempre: atacando e desaparecendo de vez. Tática de guerrilha, dizia-se entre os oficias.
Guerrilha ou não o fato é que os dois saíram sós, mas levemente feridos nos braços e nas pernas.
Um deles, Chico Danado, levou um chuchado de um inimigo caído, que estava morrendo.
Chuchou a perna de Chico, deu um largo sorriso e se debandou pro infernos depois que Chico Danado afundou sua testa com a coronha do fuzil. Os dois chegaram sem respiração. Antonio se derreou. Seu ferimento na perna esquerda não era grave, mas sangrava bastante. Mas ele não tava nem aí praquilo. Sorria o sorriso da vitória, afinal. Cabras valentes ou doidos.
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