O mês de agôsto é quase todo ele de muitos ventos. Nessa época do ano vemos o céu coalhado de leves corpos multicoloridos como pássaros voejando ao sabor dos ventos.
No campinho do Perissê são muitos os garotos, e marmanjos de todas as idades, que se reunem para colocarem ao céu suas pipas; quanto maiores altitudes elas alcançam maior é o orgulho do empinadores.
Começam, então, as batalhas em pleno ar. Algumas delas se perdem e vão flanando, flanando até cairem muito longe do local onde se travaram os cruzamentos desses leves objetos feitos de varetas de bambu e papel-seda.
Mas não há desânimo nem choro. Os que perdem as batalhas põem para cima outras pipas, que trazem como reserva, e os engalfinhamentos continuam cada vez mais acirrados. É que as linhas hoje são cobertas por fina camada de vidro moido que funcionam como navalhas. Apesar de aparentarem brinquedos inocentes, esses objetos voadores identificáveis se tornam armas perigosas com suas linhas cortantes.
No meu tempo de empinador, lá pelos idos de 4o, as pipas tinham "rabos", de papel ou de pano, onde se colocavam giletes em suas pontas para cortar as linhas dos adversários, às vezes empinando suas pipas em outras ruas, mas com inteligentes manobras de braço eram capazes de sair vencedores. Aquelas batalhas eram mais renhidas e mais dificeis, por exigirem uma precisão de abordagem à pipa adversária de tal modo que a gilete, nas extremidades dos rabos, cortasse a linha com precisão cirúrgica. E tudo feito a elevadas alturas.
A tela em foco representa o momento mágico e alegre desses garotos empinadores de pipa do bairro do Perissê. Não assinei nem datei a referida obra, mas calculo tenha sido num mês de agosto de 1999.
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