DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

A ARAPUCA

A ARAPUCA


Havia muitos dias que eu observava o adejar de um pássaro pelos limites de meu quintal. Os seus incansáveis vôos só terminavam depois que o Sol se escondia por detrás da bela montanha das Duas Pedras. Havia algo de singular naquela ave. Aqueles foram os primeiros dias de observações em que, graças a um relance de olhar mais acurado, eu a percebia por entre as folhagens de um abacateiro. Já era de tardinha, e as sombras da noite se aproximavam rapidamente, naquele inverno, sobre os telhados das casas do meu bairro. Não fora sempre assim. Lembra-me que o inverno do ano anterior as tardes pareciam mais longas, e a luminosidade reinante facilitava-nos à visão de detalhes dos pássaros viajores.
Bela era a visão dos bicos de lacres adejando em verdadeiras nuvens ao matagal existente ali próximo. Vinham eles lá dos lados das margens do rio para, em vôos rápidos, alcançarem as matas vicejantes na parte alta do bairro, onde uma espécie de capim lhes fornecia o alimento necessário.
Os bem-te-vis não se faziam de rogados. Eles estavam o dia inteiro pousando sobre as antenas de televisão, sobre a fiação de postes de iluminação pública, sobre as cumeeiras das residências e sobre as muitas árvores protetoras. As andorinhas, essas só chegavam de muito longe pelos meses de agosto a outubro. Faziam seus ninhos debaixo das telhas das pingadeiras e em quaisquer outros orifícios, sob o viaduto primordialmente.
Eu, numa dessas ocasiões, aguardando as presenças dessas graciosas aves negras, preparei uma espécie de “condomínio” com “apartamentos” confortáveis para, pelo menos, seis delas. Tudo feito com esmero e carinho em uma caixa de papelão de 0,54 x 0,10m.; as aves chegaram e não ocuparam logo de saída os “imóveis” especialmente preparados por mim para as incubações na estação apropriada às criações dos filhotes. Mais tarde, ao me aproximar do “condomínio” senti os vôos rasantes das andorinhas – mães valentes e super protetoras – sobre minha cabeça. Elas aceitaram, por fim, o meu presente. Quanto orgulho eu senti.
Quis dizer com isso que a variedade de pássaros em meu bairro é bastante festiva – não mencionei os bandos de pombos e alguns pares de gaviões que adejam a vizinhança. Eles, sem dúvida alguma, dão vida ao nosso recanto residencial. Mas, bem, o escopo principal desse meu texto, que poderão chamar conto, crônica ou mesmo simples narrativa, é à direção do singular pássaro que surgiu não se sabe de onde para se demorar. Por certo, deveria estar desgarrado de seu bando, desorientado pelo pólo magnético, ou expulso de sua comunidade alada – coisa quase impossível de acontecer às aves.
A tal ave tinha características totalmente diferenciadas das muitas
habitantes locais daí o meu interesse em vê-la mais perto, tocá-la e
acariciá-la, uma vez presa às minhas mãos. Com tal intenção, tentei
atraí-la com frutas – papaia, goiaba, banana e figo – que dispunha
cuidadosamente por sobre a tampa do depósito de água.
Acho que eu menosprezei a inteligência da ave que tinha uma longa
cauda azulada mesclada de verde, a penugem na cor marrom, o peito
vermelho e o bico de uma cor indefinida. As patas longas – bem mais
que as das demais aves minhas conhecidas – eram de cor amarelo ouro.
Uma verdadeira pintura voadora. Nunca a vi beliscando as frutas, mas
tinha certeza de que ela se servia delas para se alimentar sob a lei
do menor esforço. Outros pássaros eu já os tinha visto ali por perto
aproveitando o repasto frutífero.
Armei, então, uma arapuca para aprisionar a inusitada ave. Eu a
coloquei próximo ao alimento, mas com o cuidado de deixar no interior
da armadilha um naco vermelho da papaia. Aquele pedaço da fruta,
atraente pela sua cor, despertaria a atenção do pássaro, objeto de
minha curiosidade.
Eu não pretendia engaiolá-lo porque que jamais desejei subtrair à
liberdade aos pássaros a quem o Criador deu asas para voarem, e não
para serem confinados.
Larguei para lá e me fui. Na manhã seguinte, fui dar uma espiada.
Achava que daquela vez eu o teria em minhas mãos. Já o sentia quente e
palpitante entre os meus dedos, e depois feliz por vê-lo alar-se à
imensidão de onde viera soltando-o, após, ao simples ato de abrir os
dedos e devolvendo-lhe a total liberdade. Dele, de sua presença junto
à arapuca, ficou tão só uma pena, mas dentro da pequena prisão, preso
e cansado, por naturalmente ter-se debatido em vão, estava um filhote
de gavião, e a arreliá-lo, por fora, uma dezena de pardais, seus
maiores inimigos na Natureza. Deduzi o sucedido: a minha ave singular
pousou para beliscar as frutas e, de repente, o filhote de gavião caiu
sobre ela espantando-a, ao mesmo tempo em que gaviãozinho se viu
acuado pelos pequenos pardais. Assustado, e em situação adversa,
penetrou à armadilha que se fechou, aprisionando-o. Fiquei sem o que
eu desejava e consegui o que eu não queria. O resto, todos poderão
avaliar a seqüência dos acontecimentos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Thanks :)
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