DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014

Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.

O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

ARREMEDO DE GUERRA

A gente fica de comentários e até se esquece do que tava se tratando né? Ah, sim: eu dizia que arribei do comboio no povoado de Aflitos. Sabes aqueles lugarezinhos chinfrins? A, pois era aquele acolá. Uma rua só comprida, e alguns becos aqui e acolá. Uma pracinha miúda com duas ou três casas boas de alvenaria e lá bem no fim a igreja. Ah, que esta não pode faltar mesmo né? Mas me arribei bem fora do povoado, pois o comboio quebrava para esquerda, modo continuar sua andança. Aflitos era mesmo povoado do alto sertão. Tinha nada não. Comerciozinho miúdo que só. Morava por ali um major de polícia afortunadamente aposentado. Era o mais rico de tudo e de todos. Mandava nos cabras que obedeciam de cabeças baixas, iguais aos bodes quando se preparam para a cornada. Já vistes? A, pois era em assim mesmo. Cheguei por volta das horas da Ave Maria e nem ouvi o sino bater na torre da igreja? Tu crês nisso? Pois não bateu não senhor. Algumas mulheres passavam me olhando com as cabeças cobertas por xales. Os cabritos, que estavam por ali, me olhavam de curiosos. No meio da pracinha, me sentei num toco de pau bem aparado. Veio um moleque me dizer que ali eu não poderia assentar. Disse encabuladinho o peralta, que ali era o toco do major Silvério que às tardinhas vinha pra tomar as frescas. Perguntei: por que não tocava o sino da igreja naquelas horas do ângelus? O moleque desabalou numa carreira apressadinha, se sumindo. Olhando pra igreja me lembrou o padre que se flagelou, se castrando pra não morrer assado. Pudera! E por aonde andaria o tal padre? Dizia-se que estava em me procurando pra acerto de contas. Desacertos, isso sim! Que contas? Observastes bem? Que contas? Quais dívidas me tinham com aquele da batina? Sai de banda! A, pois por meu lado eu saí. Tava em Aflitos, pois eu já não contei que o que faltava da cintura pra riba eu tinha de sobra dela pra baixo? Minhas pernas me levaram pra Aflitos. Mas vou te contar o porquê na igreja não tinham o sino badalado. Coisa esquisita. Vixe, e como era esquisito! Demorou-se, mas eu soube o motivo. Quem tocava o sino pro padre local era o próprio coroinha – molecote de seus 14 anos, se muito. Mas esse menino – vês que era uma criança – era judiado pelo tal major. Fazia do garoto sua ordenança. Tanto lhe fez de maldade que o pobre não agüentou mais. Passou a corda no pescoço e se jogou no vazio. Ficou dependurado se debatendo, pois a ponta da corda o desinfeliz atochou no badalo do tal sino que silenciou como coruja perdida. Desde então o sino se calou, mas não podia. As mulheres enxeridas, aqueles ratos das igrejas, falando pelos cotovelos (Vistes, já falei delas lá atrás) reclamavam ao padre alguém que tocasse de novo o sino.
O que é que se falava do tal major mais o menino defunto? É coisa de muita vergonheira. Pois corria a boca pequena que o tal garoto de catorze anos – moleque bem posto bonito e com trejeitos de moça – passava por mulher-dama na casa do major. Pode-se com tais negócios imorais? Pode-se com tais sem-vergonhices? O que eu estranhei foi que ninguém, mas nem unzinho só do povo dali mexeu uma palha pro modo acabar com a porquice atribuída ao tal militar reformado. Velho patife! Solteirão, porque a mulher o chifrou com o agente da Estrada de Ferro indo mais ele pro Cariri. Diz que fez um escândalo dos brabos e ficou nisso só. Aí escorregaram os olhos safados seus pro menino. A casa pobre, sem comer todos os dias, aceitou as promessas do manda-chuva do povoado. E foi-se aquela patifaria indigna de um sujeito major de polícia aposentado. Sem filhos, adotou o que se finou como tal, prometendo botar tudinho o que tinha em nome dele. Os olhos da mãe e do pai cresceram. Nenhum dos dois ia passar mais necessidades. Mas se sumiram do povoado. Foram dar com os costados num lugarejo distante dali muitas horas. Pra se ir lá era de trem que se fazia. Se sumiram, dando de bandeja o pobre garoto que foi espezinhado pelo major, até que ele resolveu morrer.
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