Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009
Estou horrorizado com o modo com que a Folhona atacou a memória de tantos brasileiros que padeceram durante a ditadura militar. Inclusive iniciei um pequeno artigo sobre o tema, mas, sinceramente, não sei se terei estômago para terminá-lo.
Enquanto isso utilizo esse espaço para parabenizar Sean Penn pelo seu segundo Oscar de melhor ator.
Não. Tampouco tenho estômago para assistir a cerimônia de entrega da estatueta, acho-a banal, desinteressante e um desfile de futilidades. O próprio valor do Oscar é relativo, até mesmo de pouco valor para quem realmente ama a sétima arte, conhecendo de antemão o interesse comercial que o cerca e a existência de muitas outras premiações e festivais mais consistentes e sérios, porém menos glamorosos e importantes perante a indústria de massas.
Também não tive a oportunidade de assistir a “Milk – A voz da igualdade”. O filme lançado recentemente aqui no Brasil, conta a história de Harvey Milk, um ativista pelos direitos civis, em especial dos homossexuais, nos EE.UU. da década de 1970. Todavia soube por gente que já o assistiu e entende de cinema melhor que eu, que a obra se baseia no tripé roteiro, escrito por Dustin Lance Black e inspirado numa história real; na direção do habilíssimo Gus Van Sant ( lembram-se de Drugstore Cowboy e Gênio Indomável); e claro, na forte interpretação de Sean Penn.
Mas, realmente, o que de fato me levou a escrever essas linhas sobre Sean Penn, além dele ser, em minha conta, o melhor ator em atividade em Hollywood e um dos menos hollywoodianos deles – quem já assistiu Sobre meninos e lobos (Mystic river), Natureza Selvagem (In to the wild) ou o remake de A grande ilusão (All the king's men), todos protagonizados por Penn, há de concordar comigo – é sua postura política e humana sem flashes ou elaborada por algum marqueteiro.
Fiquei entusiasmado com a possibilidade de Penn levar outro Oscar, em 2004 já levou pela descomunal interpretação em Sobre meninos e lobos, pois o seu currículo lhe faz jus à premiação, e mais uma estatueta poderia corroborar para a imagem que a ultraconservadora sociedade estadunidense está mesmo passando por um processo de transformação. Embora eu confesse não saber decifrar exatamente que tipo de transformação é essa.
Penn foi até Bagdá em dezembro de 2003 ver in loco a destruição e massacre comandado pelos senhores da guerra do Pentágono e retornou declarando que a Casa Branca só decidiu atacar o Iraque porque o país não tinha as tais armas mortíferas que o governo Bush apregoava. ‘Vamos manchar covardemente nossas mãos de sangue inocente’, advertiu o ator. Depois ainda pediu o impedimento do presidente George Cowboy Bush e do vice Dick Cheney.
Antes disso, naquele mesmo ano, a Screen Actors Guild, o sindicato das estrelas e dos anônimos de Hollywood, divulgou comunicado denunciando pressões dos estúdios contra profissionais do cinema que ostentavam em público suas opiniões políticas – desde que, é claro, elas estivessem contrárias ao consenso fabricado em Washington. Não por acaso Sean, filho de Leo Penn, diretor perseguido pelo marcatismo durante a década de 1950 e boicotado por suas posições políticas, se viu vitima de perseguição durante a versão marcatista do século 21, o bushismo. Teve projetos engavetados e enfrentou a retaliação por parte da mídia neocon estadunidense.
Em 2007 o ator esteve na Venezuela para, em suas palavras, “observar por si mesmo a situação venezuelana”. Em várias ocasiões se encontrou com Chávez, com quem, entre outras coisas, percorreu bairros pobres de Caracas e visitou Pueblo Encima, cidade próxima à fronteira com a Colômbia. Encontros com o presidente da Asemblea Nacional Cubana, Ricardo Alarcón, e com o produtor espanhol José Ibáñez – responsável pela produção do documentário de Oliver Stone sobre Fidel Castro, intitulada Comandante – também fizeram parte de sua agenda de seis dias.
Em novembro último, antes das eleições presidenciais ianques, a revista The Nation publicou entrevista de Raul Castro concedida a Sean Penn em Havana, na qual o líder cubano abordou a possibilidade de um eventual diálogo com Barack Obama onde tratariam temas como Guantánamo e o covarde bloqueio a ilha do Caribe.
E, é, justamente pela sua atividade política, pela sua firmeza na defesa das próprias opiniões, pelos papéis nada fáceis de ser interpretados e pela sua indelével qualidade como ator, que me senti rejubilado ao saber que a Aacaemy Awards tenha lhe concedido o Oscar de melhor ator também agora em 2009.
Muito embora eu tenha certeza Sean Penn é muito maior que a própria academia.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 18:51 0 comentários
DESPESAS COM REFORMAS ESTÁDIOS PARA COPA 2014
Chegou ao meu conhecimento, e muitos devem saber igualmente, que para sediar a Copa de Futebol de 2014 o país gastou verdadeira fortuna em publicidade apelativa. Agora, um PPS recebido de amigos esclarece o montante que se irá gastar para a reconstrução - reformas em estádios já existentes - e construções de novas arenas para a prática futebolística.
O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.
O dinheiro não virá dos clubes, pois que a maioria deles anda na "corda bamba", financeiramente falando; muitos agremiações esportivas se acham mesmo no "vermelho": salários atrasados, encargos sociais nas mesmas condições e outros problemas inerentes ao mundo de negócios do futebol. Pois pasmem: o montante dessa despesas com estádios para a Copa de 2014 atingirá, de saída, R$ 5.713 bi. É uma "bagatela", para um país que nada em dinheiro, que distribui entre os países irmãos vultosas somas, que perdoa dívidas elevadíssimas aos países africanos e ainda financia não sei que obras ou situações na Grécia. Melhor é lacrar os cofres da Previdência, a fim de se evitar futuros transtornos àquela instituição e aos seus beneficiários.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
SEAN PEEN - UM ASTRO A SERVIÇO DO "GOOD SENSE"
Sábado, 28/02/09
Hollywood não é uma fábrica apenas de heróis fictícios. Embora durante décadas os tenha criado – sendo vários dos mais comuns mortais aos imbatíveis homens voadores invulneráveis – para deleite de platéias ávidas por super-homens que lhes acendessem a auto-estima e o desejo de a tudo sobreviverem, sem o desejar, no íntimo legaram às multidões verdadeiros homens superiores que fazem de suas existências, longe dos focos dos “spots”, das câmeras e dos gritos de diretores, uma verdadeira estrada que os desnudam a fundo, mostrando que não estamos diante de simples mortais, mas de cidadãos desligados dos palcos e dos cenários montados para a realização de sonhos e imbuídos de seus verdadeiros papéis de cidadãos do mundo.
Sean Penn é um desses poucos. A fibra de seu pai, o diretor Leo Penn, perseguido pelo macartismo na década de 50, passou, através do DNA, para o astro agora premiado com a estatueta Oscar que, como diz bem o senhor Hudson, tem valor relativo e não valoriza realmente, a não ser à roda de outros tantos astros e atrizes medíocres, que se escondem nas conchas dos sucessos efêmeros.
Realmente, suas andanças com fins humanitários – e porque não dizer políticos? – se evidenciam em suas visitas aos países massacrados pelo grande Bush o mais novo General MacCarthy, perseguidor contumaz de mentes brilhantes e que destronado de seu poder não deixou saudades. É verdade: a nação estrelada só invadiu o Iraque por já saber que lá não existiam armas químicas, sendo o único objetivo o de executar Saddam Hussein.
Sean Penn valoriza seu pai, como diretor e cidadão fiel aos seus princípios, e a si mesmo, pela igual fidelidade aos seus. Ele não precisa de um Oscar; o que ele precisa é que as pessoas livres de todas as nações dêem ouvidos aos seus apelos significativos, com a sua presença aos países perseguidos pelo poderio político, econômico e bélico dos EUA. A VIDA tem nele o seu maior ator e o seu mais valoroso defensor, o que faz dele maior que “Awards Academy”, no dizer do sociólogo e eclético comentarista Hudson Luiz Vilas Boas.
Hollywood não é uma fábrica apenas de heróis fictícios. Embora durante décadas os tenha criado – sendo vários dos mais comuns mortais aos imbatíveis homens voadores invulneráveis – para deleite de platéias ávidas por super-homens que lhes acendessem a auto-estima e o desejo de a tudo sobreviverem, sem o desejar, no íntimo legaram às multidões verdadeiros homens superiores que fazem de suas existências, longe dos focos dos “spots”, das câmeras e dos gritos de diretores, uma verdadeira estrada que os desnudam a fundo, mostrando que não estamos diante de simples mortais, mas de cidadãos desligados dos palcos e dos cenários montados para a realização de sonhos e imbuídos de seus verdadeiros papéis de cidadãos do mundo.
Sean Penn é um desses poucos. A fibra de seu pai, o diretor Leo Penn, perseguido pelo macartismo na década de 50, passou, através do DNA, para o astro agora premiado com a estatueta Oscar que, como diz bem o senhor Hudson, tem valor relativo e não valoriza realmente, a não ser à roda de outros tantos astros e atrizes medíocres, que se escondem nas conchas dos sucessos efêmeros.
Realmente, suas andanças com fins humanitários – e porque não dizer políticos? – se evidenciam em suas visitas aos países massacrados pelo grande Bush o mais novo General MacCarthy, perseguidor contumaz de mentes brilhantes e que destronado de seu poder não deixou saudades. É verdade: a nação estrelada só invadiu o Iraque por já saber que lá não existiam armas químicas, sendo o único objetivo o de executar Saddam Hussein.
Sean Penn valoriza seu pai, como diretor e cidadão fiel aos seus princípios, e a si mesmo, pela igual fidelidade aos seus. Ele não precisa de um Oscar; o que ele precisa é que as pessoas livres de todas as nações dêem ouvidos aos seus apelos significativos, com a sua presença aos países perseguidos pelo poderio político, econômico e bélico dos EUA. A VIDA tem nele o seu maior ator e o seu mais valoroso defensor, o que faz dele maior que “Awards Academy”, no dizer do sociólogo e eclético comentarista Hudson Luiz Vilas Boas.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
A ESQUERDA ENFRENTA A DURA CARPINTARIA DA HISTÓRIA
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2009
A esquerda enfrenta a dura carpintaria da história
Por Saul Leblon
Da Agência Carta Maior
A crise mundial desencadeou um salutar debate sobre o desenvolvimento contribuindo para desbloquear a memória e o imaginário social, entorpecidos por sonolentas décadas de monólogo conservador. Por quase 30 anos despejou-se sobre a sociedade uma peroração cotidiana que reafirmava a virtude dos mercados desregulados para promover o crescimento, a inovação, a modernidade, a eficiência, a liberdade, orgasmo e a cura para a calvice.
Jornalões, colunas e colunistas, em especial nas editorias de economia, funcionaram esse tempo todo como uma espécie corregedoria ideológica do fim da história. Dentro e fora das redações, cuidavam de vigiar, punir e desqualificar quem ousasse argüir o mainstream, bem como o perímetro por ele reservado à democracia.
A universidade deve à história um livro branco sobre o peso da mídia nessa dialética de propaganda e vigilância. Não uma caça às bruxas que mimetize o objeto. Mas uma análise substantiva sobre como, sob a roupagem do ‘especialista’, valendo-se de uma novilíngua afiada, a imprensa exerceu por tanto tempo um poder equivalente ao do Grande Irmão, conseguindo inculcar no cidadão médio preconceitos como “gastança pública” e “custo Brasil”. Foi assim que ela lapidou uma narrativa de mundo que viria demonizar como ineficiente o que era eficiente socialmente; como liberdade, o que restringia a democracia em benefício da livre circulação do dinheiro.
A derrocada de tudo aquilo que até há bem pouco atestava como inútil a busca de novas formas de viver e de produzir, assume assim a contundência de um pé-de-cabra que arromba as portas da história.
Abertas abruptamente, porém, senzalas materiais ou imateriais muitas vezes revelam a perplexidade dos libertos ao primeiro facho de luz. A vertigem, no caso, não parece ter poupado a própria esquerda.
Em meio às angústias que assombram trabalhadores e a classe média, emparedados entre a fatalidade de uma ordem que se liquefaz e um futuro que nada propõe exceto agonia, parte dos teóricos da esquerda agarra-se à discussão metafísica de modelos, desobrigando-se de assumir a dura carpintaria de construção da história nesse momento.
Uma das mais óbvias distinções entre o materialismo histórico e o idealismo é o reconhecimento de que a transformação da sociedade só é possível a partir de seus agentes de carne e osso, portadores de conflitos de pedra e cal.
Mas, perguntam teóricos da esquerda enquanto pau come solto nas vizinhanças, isto é, no mundo real: com ou sem regulação da economia pelo Estado nacional? Com ou sem estatização de bancos? Com ou sem indução de investimentos públicos? Com ou sem políticas públicas de garantia de emprego? Keynesianismo, mas como, na globalização? Socialismo, mas sem sujeito histórico proletário?
É interessante observar a desenvoltura eclética –para dizer o mínimo-- com que representantes do capital transitam por essas escolhas, ferramentas e campos conceituais postos na ordem do dia pela crise. Enquanto intelectuais de esquerda multiplicam as listas do que não é possível fazer –tudo, exceto o aprisco seguro de uma teoria da revolução mundial-- expoentes do establishment, desde um progressista Paul Krugman a um atilado analista como Nouriel Roubini; de Ângela Merkel a Gordon Brown, passando pelos insuspeitos Alan Greenspan e Nicolas Sarkozy, ninguém hesita em recorrer ao ferramental disponível, tenha ele o carimbo ideológico que tiver. A saber, da demissão em massa, à estatização de bancos; da emissão de moeda em quantidades industriais, a gastos fiscais pantagruélicos que cospem sem cerimônia no prato diet de alface e rabanete do Tratado de Maastricht.
O recado é claro: há uma desordem em marcha e ela ameaça o poder político do capitalismo. Vale tudo para evitá-lo. O Estado, suas políticas e fundos públicos oferecem a necessária dose de centralização, escala e capacidade de comando para ocupar o vácuo aberto pela finança em decomposição. “Momentaneamente”, desculpam-se uns; “uma vez a cada cem anos”, delimita Alan Greenspan; mas o fato é que se recorre a ele quando a escolha é salvar os dedos ou perder toda a mão invisível legada por Adam Smith.
Tamanha versatilidade não ofusca a derrota ideológica dos aparatos conservadores no centro e na periferia do sistema. Mas deixa claro que o avanço das demandas populares não ocorrerá porque o City Bank escorrega na ladeira de uma estatização provisória; ou a GM –maior montadora mundial até 2001-- debulha-se em perdas numa rota de falência assistida pelo Estado. Há substitutos em marcha para os mortos canibalizados pelo darwinismo da crise. A voragem de fusões e compras amparadas em fundos públicos, empurra a onda submersa que busca desesperadamente recriar o novo devorando o DNA do velho.
O salto político da esquerda pressupõe alternativas concretas a essa transição. Respostas capazes, por exemplo, de transformar a coordenação provisória da riqueza financeira pelo Estado em ganho permanente da sociedade, subordinando de vez o poder dinheiro à democracia; como a estatização do crédito, por exemplo.
Em diferentes períodos da história, a luta pela transformação da sociedade incluiu interregnos de capitalismo de Estado, ora associados à ampliação do poder político das massas; ora vinculados a acontecimentos devastadores em que um poder de coerção superior foi posto integralmente a serviço da guerra e da demência autoritária. O caso clássico é a ascensão do nacional-socialismo na crise dos anos 30, quando se assistiu a uma recuperação fulminante da economia alemã, graças a políticas de capitalismo de Estado coordenadas pelo comando nazista.
Desde a NEP, de Lênin, porém, passando pela China atual até a revolução bolivariana de Chávez e Morales, a ampliação da influência popular sobre o Estado tem permitido, ao contrário, deslocar as prioridades do capital a favor das urgências da democracia e da justiça social. Se ainda não é a revolução, como de fato não é; se ainda se recorre a políticas keynesianas a contrapelo das restrições impostas pela globalização, como de fato se recorre - vide Bolívia e Venezuela - a verdade é que são esses interregnos que representam hoje o ponto mais avançado da luta de classes em todo o mundo. Portanto, da esperança de renovação da agenda socialista em nosso tempo.
A lição parece ser que a história avança a partir de imperfeições;não de modelos desprovidos de conteúdo histórico. Movimenta-a um entrelaçamento tenso entre forças novas e instrumentos velhos, muitas vezes renovados até o ponto de mutação. A esquerda terá papel relevante na dialética da crise mundial se conseguir enxergar-se como parte desse amálgama de restrições e possibilidades cercados de ruídos e imperfeições. Se renunciar à carpintaria da história para mergulhar na busca metafísica da solução pura, a salvo de contradições, será tratorada pela desenvoltura ecumênica da força-tarefa capitalista. Mais uma vez.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 10:20 3 comentários
A esquerda enfrenta a dura carpintaria da história
Por Saul Leblon
Da Agência Carta Maior
A crise mundial desencadeou um salutar debate sobre o desenvolvimento contribuindo para desbloquear a memória e o imaginário social, entorpecidos por sonolentas décadas de monólogo conservador. Por quase 30 anos despejou-se sobre a sociedade uma peroração cotidiana que reafirmava a virtude dos mercados desregulados para promover o crescimento, a inovação, a modernidade, a eficiência, a liberdade, orgasmo e a cura para a calvice.
Jornalões, colunas e colunistas, em especial nas editorias de economia, funcionaram esse tempo todo como uma espécie corregedoria ideológica do fim da história. Dentro e fora das redações, cuidavam de vigiar, punir e desqualificar quem ousasse argüir o mainstream, bem como o perímetro por ele reservado à democracia.
A universidade deve à história um livro branco sobre o peso da mídia nessa dialética de propaganda e vigilância. Não uma caça às bruxas que mimetize o objeto. Mas uma análise substantiva sobre como, sob a roupagem do ‘especialista’, valendo-se de uma novilíngua afiada, a imprensa exerceu por tanto tempo um poder equivalente ao do Grande Irmão, conseguindo inculcar no cidadão médio preconceitos como “gastança pública” e “custo Brasil”. Foi assim que ela lapidou uma narrativa de mundo que viria demonizar como ineficiente o que era eficiente socialmente; como liberdade, o que restringia a democracia em benefício da livre circulação do dinheiro.
A derrocada de tudo aquilo que até há bem pouco atestava como inútil a busca de novas formas de viver e de produzir, assume assim a contundência de um pé-de-cabra que arromba as portas da história.
Abertas abruptamente, porém, senzalas materiais ou imateriais muitas vezes revelam a perplexidade dos libertos ao primeiro facho de luz. A vertigem, no caso, não parece ter poupado a própria esquerda.
Em meio às angústias que assombram trabalhadores e a classe média, emparedados entre a fatalidade de uma ordem que se liquefaz e um futuro que nada propõe exceto agonia, parte dos teóricos da esquerda agarra-se à discussão metafísica de modelos, desobrigando-se de assumir a dura carpintaria de construção da história nesse momento.
Uma das mais óbvias distinções entre o materialismo histórico e o idealismo é o reconhecimento de que a transformação da sociedade só é possível a partir de seus agentes de carne e osso, portadores de conflitos de pedra e cal.
Mas, perguntam teóricos da esquerda enquanto pau come solto nas vizinhanças, isto é, no mundo real: com ou sem regulação da economia pelo Estado nacional? Com ou sem estatização de bancos? Com ou sem indução de investimentos públicos? Com ou sem políticas públicas de garantia de emprego? Keynesianismo, mas como, na globalização? Socialismo, mas sem sujeito histórico proletário?
É interessante observar a desenvoltura eclética –para dizer o mínimo-- com que representantes do capital transitam por essas escolhas, ferramentas e campos conceituais postos na ordem do dia pela crise. Enquanto intelectuais de esquerda multiplicam as listas do que não é possível fazer –tudo, exceto o aprisco seguro de uma teoria da revolução mundial-- expoentes do establishment, desde um progressista Paul Krugman a um atilado analista como Nouriel Roubini; de Ângela Merkel a Gordon Brown, passando pelos insuspeitos Alan Greenspan e Nicolas Sarkozy, ninguém hesita em recorrer ao ferramental disponível, tenha ele o carimbo ideológico que tiver. A saber, da demissão em massa, à estatização de bancos; da emissão de moeda em quantidades industriais, a gastos fiscais pantagruélicos que cospem sem cerimônia no prato diet de alface e rabanete do Tratado de Maastricht.
O recado é claro: há uma desordem em marcha e ela ameaça o poder político do capitalismo. Vale tudo para evitá-lo. O Estado, suas políticas e fundos públicos oferecem a necessária dose de centralização, escala e capacidade de comando para ocupar o vácuo aberto pela finança em decomposição. “Momentaneamente”, desculpam-se uns; “uma vez a cada cem anos”, delimita Alan Greenspan; mas o fato é que se recorre a ele quando a escolha é salvar os dedos ou perder toda a mão invisível legada por Adam Smith.
Tamanha versatilidade não ofusca a derrota ideológica dos aparatos conservadores no centro e na periferia do sistema. Mas deixa claro que o avanço das demandas populares não ocorrerá porque o City Bank escorrega na ladeira de uma estatização provisória; ou a GM –maior montadora mundial até 2001-- debulha-se em perdas numa rota de falência assistida pelo Estado. Há substitutos em marcha para os mortos canibalizados pelo darwinismo da crise. A voragem de fusões e compras amparadas em fundos públicos, empurra a onda submersa que busca desesperadamente recriar o novo devorando o DNA do velho.
O salto político da esquerda pressupõe alternativas concretas a essa transição. Respostas capazes, por exemplo, de transformar a coordenação provisória da riqueza financeira pelo Estado em ganho permanente da sociedade, subordinando de vez o poder dinheiro à democracia; como a estatização do crédito, por exemplo.
Em diferentes períodos da história, a luta pela transformação da sociedade incluiu interregnos de capitalismo de Estado, ora associados à ampliação do poder político das massas; ora vinculados a acontecimentos devastadores em que um poder de coerção superior foi posto integralmente a serviço da guerra e da demência autoritária. O caso clássico é a ascensão do nacional-socialismo na crise dos anos 30, quando se assistiu a uma recuperação fulminante da economia alemã, graças a políticas de capitalismo de Estado coordenadas pelo comando nazista.
Desde a NEP, de Lênin, porém, passando pela China atual até a revolução bolivariana de Chávez e Morales, a ampliação da influência popular sobre o Estado tem permitido, ao contrário, deslocar as prioridades do capital a favor das urgências da democracia e da justiça social. Se ainda não é a revolução, como de fato não é; se ainda se recorre a políticas keynesianas a contrapelo das restrições impostas pela globalização, como de fato se recorre - vide Bolívia e Venezuela - a verdade é que são esses interregnos que representam hoje o ponto mais avançado da luta de classes em todo o mundo. Portanto, da esperança de renovação da agenda socialista em nosso tempo.
A lição parece ser que a história avança a partir de imperfeições;não de modelos desprovidos de conteúdo histórico. Movimenta-a um entrelaçamento tenso entre forças novas e instrumentos velhos, muitas vezes renovados até o ponto de mutação. A esquerda terá papel relevante na dialética da crise mundial se conseguir enxergar-se como parte desse amálgama de restrições e possibilidades cercados de ruídos e imperfeições. Se renunciar à carpintaria da história para mergulhar na busca metafísica da solução pura, a salvo de contradições, será tratorada pela desenvoltura ecumênica da força-tarefa capitalista. Mais uma vez.
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 10:20 3 comentários
UM PRESIDENTE, UMA CONSULTA. UM AMIGO, UMA BANDA
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2009
Um presidente, uma consulta. Um amigo, uma banda.
Por ocasião de mais uma vitória DEMOCRÁTICA de Hugo Chávez e do processo bolivariano em curso na vizinha Venezuela, Lucas Rafael Chianello, grande amigo e companheiro de lutas aqui em Poços de Caldas, mandou-me essa letra do grupo punk brasiliense “Plebe Rude” – uma das principais do movimento conhecido por Rock Brasil nos anos oitenta.
O curioso é que, se não me falha a memória, fui eu quem apresentou a “Plebe” ao companheiro Chianello, mas não me recordava dessa letra, que, como de praxe a quase todas as outras do quarteto, conta com uma idiossincrasia sem falsos pudores políticos.
Viva a sabedoria (e autonomia) do trabalhador venezuelano, viva ao processo bolivariano!!!
Plebiscito
Plebe Rude
Um pouco além de notícias de jornal
Um pouco aquém da situação atual
Este absurdo já é tão constante
Se você para por um instante
O que tens que evitar é se acostumar
O poder do sim ou não
As letras em negrito
Quem cala consente, isso não
Proponho um plebiscito
O absurdo e essa indecisão
Tanto esforço para dar uma opinião
A plebe incita uma chance
Se você para por um instante
É o caminho ao voto popular
O poder do sim ou não
As letras em negrito
Quem cala consente, isso não
Proponho um plebiscito
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 17:33 1 comentários
Um presidente, uma consulta. Um amigo, uma banda.
Por ocasião de mais uma vitória DEMOCRÁTICA de Hugo Chávez e do processo bolivariano em curso na vizinha Venezuela, Lucas Rafael Chianello, grande amigo e companheiro de lutas aqui em Poços de Caldas, mandou-me essa letra do grupo punk brasiliense “Plebe Rude” – uma das principais do movimento conhecido por Rock Brasil nos anos oitenta.
O curioso é que, se não me falha a memória, fui eu quem apresentou a “Plebe” ao companheiro Chianello, mas não me recordava dessa letra, que, como de praxe a quase todas as outras do quarteto, conta com uma idiossincrasia sem falsos pudores políticos.
Viva a sabedoria (e autonomia) do trabalhador venezuelano, viva ao processo bolivariano!!!
Plebiscito
Plebe Rude
Um pouco além de notícias de jornal
Um pouco aquém da situação atual
Este absurdo já é tão constante
Se você para por um instante
O que tens que evitar é se acostumar
O poder do sim ou não
As letras em negrito
Quem cala consente, isso não
Proponho um plebiscito
O absurdo e essa indecisão
Tanto esforço para dar uma opinião
A plebe incita uma chance
Se você para por um instante
É o caminho ao voto popular
O poder do sim ou não
As letras em negrito
Quem cala consente, isso não
Proponho um plebiscito
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 17:33 1 comentários
25/02/09
Estou com o amigo e não abro mão dessa parceria: via o trabalhador venezuelano e à vitória do processo bolivariano de Hugo Chávez, o único dirigente sul-americano a "peitar" a antes poderosa nação estrelada, cujo presidente anterior - só se meteu em enrascadas políticas - se ofuscou ao invadir o Iraque levando à forca o seu dirigente Saddam Hussein por suspeição infundada de que a antiga Babilônia tivesse um arsenal de armas químicas. Chávez usa o seu prestígio e o seu carisma para "revolucionar" o seu próprio país, colocar a situação nos eixos e proceder a uma limpeza diplomática. Se o SIM saiu vencedor, ficou demonstrada a vontade popular e o acerto de seu governo. É lembrada em boa hora a letra "PLEBISCITO" do grupo brasiliense PLEBE RUDE, famoso nos anos 80.
Chávez não se desviou de sua filosofia política. Continua fiel aos seus objetivos. É isto o mínimo que se deseja de um condutor democrático (ainda detesto este termo quando se trata da "democracia" brasileira).
Abraços.
25 de Fevereiro de 2009 04:40
Estou com o amigo e não abro mão dessa parceria: via o trabalhador venezuelano e à vitória do processo bolivariano de Hugo Chávez, o único dirigente sul-americano a "peitar" a antes poderosa nação estrelada, cujo presidente anterior - só se meteu em enrascadas políticas - se ofuscou ao invadir o Iraque levando à forca o seu dirigente Saddam Hussein por suspeição infundada de que a antiga Babilônia tivesse um arsenal de armas químicas. Chávez usa o seu prestígio e o seu carisma para "revolucionar" o seu próprio país, colocar a situação nos eixos e proceder a uma limpeza diplomática. Se o SIM saiu vencedor, ficou demonstrada a vontade popular e o acerto de seu governo. É lembrada em boa hora a letra "PLEBISCITO" do grupo brasiliense PLEBE RUDE, famoso nos anos 80.
Chávez não se desviou de sua filosofia política. Continua fiel aos seus objetivos. É isto o mínimo que se deseja de um condutor democrático (ainda detesto este termo quando se trata da "democracia" brasileira).
Abraços.
25 de Fevereiro de 2009 04:40
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
EDMAR (DO CASTELO) P/VICE DE SERRA EM 2010
Inicio aqui uma campanha, e espero contar com os companheiros da mídia alternativa nessa empreitada. Edmar Moreira para vice na chapa de José Serra à presidência da República em 2010.
Afinal onde os demos poderão encontrar outro nome mais apropriado? Qual político demo está em condição moral melhor que a de Edmar?
Aliás, Edmar é o retrato do próprio DEMO e o que ele representa para a política nacional. Ex-capitão da PM durante a Ditadura – da qual, obviamente, era adepto – tinha como passa-tempo nas madrugadas ingressar nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”. Mais tarde enveredou pelos trilhos do empreendedorismo capitalista ao fundar uma empresa de segurança privada – que coisinha mais neoliberal!!! E como bom neoliberal que é não fica só na teoria, mas esforçasse para pô-la em prática, recusando-se a pagar tanto direitos trabalhistas a seus funcionários quanto os impostos que lhe cabem. Mais ainda, empregou muito do seu tempo, do seu dinheiro – um pouco de dinheiro sonegado e outro tanto conquistados através das facilidades de ser um deputado estadual ou federal – e seu trabalho – na verdade o trabalho era mais dos outros do que dele mesmo – construindo um castelo em plena região da Mata em Minas Gerias. Que coisinha mais megalomaníaca e consumista!!!
Agora, tornou-se conhecido nacionalmente pela suntuosidade de seu castelo, onde, dizem as más línguas a jogatina rolava solta e com a presença, inclusive, de muitos políticos. Hum... fiquei curioso para saber quais eram os políticos a freqüentar e gastar maços de reais na zona da Mata, embora eu seja capaz de apostar a quais partidos pertencem esses cavalheiros
Edmar, justamente pela exposição nacional que passou a ter na última semana desde que foi eleito corregedor da Câmara dos Deputados indicado pelo DEMO – no entendimento dos nobres deputados do finado PFL, Edmar reunia todas as pré-condições para ocupar tal função –, ganhou a repercussão nacional que falta aos seus comparsas, ops, companheiros de partido.
Portanto, por todos os seus predicados e pela exposição gratuita, é o nome que o DEMO tanto almeja e procura a fim de ocupar a vaga de vice na chapa tucano-demo encabeçada pelo governador paulista. Afinal de contas ele é a personificação dum partido composto por mitômanos que se tornaram ricos empresários utilizando-se duma ralação promíscua com o estado, anti-sindicalistas, viúvas da Ditadura, antigos (e novos) coronéis e neoliberais convictos. Soma-se a tudo isso o fato de ter ganhado notoriedade em todo o território brasileiro. Do Oiapoque ao Chuí as suas peripécias ficaram famosas.
Esse é o DEMO, enquanto Moreira constrói castelo nas Minas Gerais, Kassab dá merenda estragada para as crianças paulistanas – lembro-me também do trabalho escravo encontrado nas terras de Inocêncio de Oliveira, ex-presidente da Câmara dos Deputados e na época um dos caciques do PFL. É... só Deus sabe o que mais acontece Brasil afora onde tem um demo na administração ou no parlamento. Por essas e (muitas) outras é razoável supor que haja naquela agremiação alguém igual ou pior a Edmar, mas melhor, impossível.
Edmar para vice em 2010!!!
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 15:44 0 comentários
Afinal onde os demos poderão encontrar outro nome mais apropriado? Qual político demo está em condição moral melhor que a de Edmar?
Aliás, Edmar é o retrato do próprio DEMO e o que ele representa para a política nacional. Ex-capitão da PM durante a Ditadura – da qual, obviamente, era adepto – tinha como passa-tempo nas madrugadas ingressar nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”. Mais tarde enveredou pelos trilhos do empreendedorismo capitalista ao fundar uma empresa de segurança privada – que coisinha mais neoliberal!!! E como bom neoliberal que é não fica só na teoria, mas esforçasse para pô-la em prática, recusando-se a pagar tanto direitos trabalhistas a seus funcionários quanto os impostos que lhe cabem. Mais ainda, empregou muito do seu tempo, do seu dinheiro – um pouco de dinheiro sonegado e outro tanto conquistados através das facilidades de ser um deputado estadual ou federal – e seu trabalho – na verdade o trabalho era mais dos outros do que dele mesmo – construindo um castelo em plena região da Mata em Minas Gerias. Que coisinha mais megalomaníaca e consumista!!!
Agora, tornou-se conhecido nacionalmente pela suntuosidade de seu castelo, onde, dizem as más línguas a jogatina rolava solta e com a presença, inclusive, de muitos políticos. Hum... fiquei curioso para saber quais eram os políticos a freqüentar e gastar maços de reais na zona da Mata, embora eu seja capaz de apostar a quais partidos pertencem esses cavalheiros
Edmar, justamente pela exposição nacional que passou a ter na última semana desde que foi eleito corregedor da Câmara dos Deputados indicado pelo DEMO – no entendimento dos nobres deputados do finado PFL, Edmar reunia todas as pré-condições para ocupar tal função –, ganhou a repercussão nacional que falta aos seus comparsas, ops, companheiros de partido.
Portanto, por todos os seus predicados e pela exposição gratuita, é o nome que o DEMO tanto almeja e procura a fim de ocupar a vaga de vice na chapa tucano-demo encabeçada pelo governador paulista. Afinal de contas ele é a personificação dum partido composto por mitômanos que se tornaram ricos empresários utilizando-se duma ralação promíscua com o estado, anti-sindicalistas, viúvas da Ditadura, antigos (e novos) coronéis e neoliberais convictos. Soma-se a tudo isso o fato de ter ganhado notoriedade em todo o território brasileiro. Do Oiapoque ao Chuí as suas peripécias ficaram famosas.
Esse é o DEMO, enquanto Moreira constrói castelo nas Minas Gerais, Kassab dá merenda estragada para as crianças paulistanas – lembro-me também do trabalho escravo encontrado nas terras de Inocêncio de Oliveira, ex-presidente da Câmara dos Deputados e na época um dos caciques do PFL. É... só Deus sabe o que mais acontece Brasil afora onde tem um demo na administração ou no parlamento. Por essas e (muitas) outras é razoável supor que haja naquela agremiação alguém igual ou pior a Edmar, mas melhor, impossível.
Edmar para vice em 2010!!!
Postado por Hudson Luiz Vilas Boas às 15:44 0 comentários
A CRISE MUNDIAL & O FANTASMA DAS REBELIÕES
Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009
Do Blog do Miro [http://altamiroborges.blogspot.com]
“Neste momento, apesar de que se fale muito de economia, existe outro fantasma que ronda o mundo e assusta mais os seus dirigentes: o fantasma das rebeliões”. José Luís Fiori.
O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.
“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.
Tensões na América do Sul
“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.
É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.
Desilusão no coração do sistema
Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.
No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.
Desafio às forças de esquerda
A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.
Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.
Do Blog do Miro [http://altamiroborges.blogspot.com]
“Neste momento, apesar de que se fale muito de economia, existe outro fantasma que ronda o mundo e assusta mais os seus dirigentes: o fantasma das rebeliões”. José Luís Fiori.
O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.
“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.
Tensões na América do Sul
“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.
É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.
Desilusão no coração do sistema
Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.
No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.
Desafio às forças de esquerda
A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.
Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.
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